O cenário vai repetir-se até ao final do ano: a partir de hoje, o Hospital de S. João, no Porto, vai realizar aos domingos cirurgias metabólicas para tratar a obesidade.
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O objetivo é "dar a melhor resposta possível aos doentes" e responder também à maior pressão sentida na lista de espera para cirurgia. A medida, que partiu da vontade dos profissionais de saúde afetos ao Centro de Responsabilidade Integrada (CRI) de Obesidade, permitirá operar um total de 64 utentes nos domingos até ao final de dezembro. Até ao momento, o S. João já ultrapassou o número de operações definidas para todo o ano. No total, em 2022, a unidade estima realizar cerca de 900 cirurgias metabólicas.
"Na pandemia, houve algum atraso em alguns exames auxiliares de diagnóstico, nomeadamente endoscopias. Temos doentes que acabaram por ficar agora com o estudo concluído para cirurgia. Temos obrigação moral de dar resposta a esses doentes e não os podemos operar fora do prazo razoável", explicou Eduardo Lima Costa, diretor do CRI de Obesidade, revelando que o S. João tem o maior centro do país em termos de cirurgias (ler ficha).
Equipa multidisciplinar
Para a cirurgia metabólica, por norma, são elegíveis doentes até aos 65 anos. E é ao Hospital de S. João que vão parar os casos mais complexos de obesidade. Os utentes são indicados pelo médico de família ou por referenciação interna, ou seja, dentro do hospital. Segue-se um estudo do doente que envolve exames e a passagem por vários especialistas. É o caso do endocrinologista, do psicólogo (ou do psiquiatra) e do nutricionista.
São, depois, explicadas ao utente as vantagens e desvantagens da operação. O risco de complicações, explicou Eduardo Lima Costa, é reduzido. Após a intervenção, há procedimentos que o doente tem de seguir.
"Os doentes mantêm o acompanhamento pela psicologia, nutrição, endocrinologia e cirurgia por um período não inferior a três anos", detalhou o médico.
Maria Brito foi operada há três dias e garante cumprir as recomendações de exercício físico e as indicações inscritas na tabela alimentar que lhe foi dada pela nutricionista do S. João. Tem 61 anos, pouco mais de um metro e meio de altura e pesa 92 quilos. O excesso de peso, contou ao JN, retirou-lhe qualidade de vida.
"Comecei a ter apneia e problemas nos joelhos e na coluna. Tudo isso devido ao peso", referiu a utente, sem esconder a felicidade por ter sido operada.
A esperança de Maria Brito é que a intervenção lhe possa devolver qualidade de vida. "Não estava a ter qualidade de vida. Baixava-me no trabalho e não me conseguia levantar. Tinha de mudar de vida", confessou.
Maior centro do país
Criado em 2019, o Centro de Responsabilidade Integrada de Obesidade do Hospital de S. João, no Porto, é o maior do país em termos de cirurgias realizadas e um dos maiores da Europa. É composto por uma equipa multidisciplinar, que integra cirurgiões, endocrinologistas, nutricionistas, psicólogos, assistentes operacionais, enfermeiros e outros profissionais.
Mais especialidades
O Centro Hospitalar Universitário de S. João está a estudar a possibilidade de alargar as cirurgias aos domingos a outras especialidades durante o mês de outubro, de forma "a dar uma resposta atempada" e graças ao "esforço dos profissionais".