Cidades buscam soluções para combater ilhas de calor e subida das temperaturas
Solos impermeabilizados e edifícios absorvem calor e dificultam passagem do vento. Árvores, corredores verdes e parques ajudam a regular ambiente no espaço público.
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A subida dos termómetros está a obrigar as cidades a olharem com mais atenção para a forma como organizam os espaços, procurando soluções para evitarem as ilhas de calor e minimizarem as consequências na saúde de moradores e visitantes. Não bastam medidas avulsas, é preciso um planeamento aprofundado, defendem os especialistas ouvidos pelo JN.
Um estudo coordenado pelo investigador da Universidade de Aveiro David Carvalho prevê para a Península Ibérica um aumento da temperatura máxima que poderá chegar aos quatro, cinco graus no final do século. Já as ondas de calor, antecipa-se que "sejam cada vez mais frequentes, longas e intensas", diz. Se a isto somarmos o efeito ilha de calor [ler ao lado], há locais das cidades onde se torna difícil aguentar o calor.
Baixa de Lisboa aquece
No espaço urbano, com solos impermeabilizados e edifícios com elevada volumetria que absorvem energia e dificultam a passagem de vento e brisas, o calor dissipa-se de forma diferente, explica António Lopes, investigador e docente do Instituto de Geografia e Ordenamento do Território da Universidade de Lisboa, que aponta a baixa da cidade (Restauradores) e o Parque das Nações como as zonas mais vulneráveis da capital. Naqueles locais, as diferenças na temperatura motivadas pelo efeito ilha de calor urbano situam-se entre os dois e os três graus.
Para combater estes fenómenos, é preciso atuar a "nível dos edifícios, para serem mais eficientes e garantirem conforto térmico, e também do espaço publico", defende Luís Paulo Pacheco, arquiteto e docente da Universidade Portucalense.
Bom exemplo no Porto
Há várias medidas, de base natural ou artificias, como o incremento de árvores e corredores verdes, a instalação de coberturas verdes e até a pintura de estruturas em cores claras para refletirem o calor. Mas não se devem realizar ações avulsas, urge um planeamento profundo que tenha em conta, nomeadamente, "as características da população", a forma como as pessoas vivem e se movimentam, reflete o arquiteto.
"Ter árvores, espaços verdes, reativar ribeiras, ajudará a amortecer o efeito do calor", refere ainda Luís Paulo Pacheco, que aponta o parque da Asprela, no Porto, como um bom exemplo de como se está a devolver às cidades uma "capacidade de regulação natural".
As árvores, acrescenta António Lopes, "são muito importantes", pois "têm vários serviços, como sombra, sequestro de carbono, transpiração, bloqueiam radiação solar". Mas, sublinha, deve-se avaliar bem "quais são as espécies mais adequadas", considerando as características das cidades.
5 graus
Um estudo do instituto suíço para a Ciência Climática e Atmosférica, publicado na "Nature Communications", revelou que as temperaturas em espaços com árvores são, em média, cinco graus mais baixas do que nas áreas urbanizadas. O trabalho foi feito com dados de satélite sobre as temperaturas da superfície terrestre e a cobertura vegetal de 293 cidades europeias.