População de Aveiro lamenta corte de árvores, que dão "encanto" e tornam cidade mais "saudável".
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Artémis Afonso, 29 anos, passeia o animal de estimação na Avenida 25 de Abril, em Aveiro, onde no âmbito do projeto de requalificação urbana em curso têm sido retiradas algumas árvores de grande porte. "Davam outro toque, outro encanto", considera, lamentando que ali, como na Avenida Lourenço Peixinho ou outros recantos da cidade, tenham sido abatidas árvores de grande porte.
"Percebo que algumas tenham de ser retiradas, por estarem doentes ou pelo perigo que possam provocar aos pedestres, mas não sei se será o caso de todas. Parece que nos estão a tirar os espaços verdes e as árvores." "Uma cidade com espaços verdes, apesar do tráfego, dá sempre uma sensação de ser mais saudável, respira-se melhor" e a "sombra faz toda a diferença em dias de calor", reforça Artémis.
Bernardo, 16 anos, gostava de percorrer aquela avenida com árvores grandes quando se dirigia para a Secundária José Estevão, onde estuda. "Senti logo a falta quando arrancaram", conta o jovem ao JN. Para a mãe, Sofia Batista, "a cidade não tem árvores suficientes". "Os espaços verdes são essenciais para a qualidade de vida, pela sombra e qualidade do ar que respiramos. Aveiro tem uma envolvente industrial muito grande e a única maneira de compensar é plantando árvores", diz.
Espaços verdes com densidade "reduzem entre um a três graus a temperatura num raio de 60 metros" e provocam aumento de humidade entre "oito a 10%", o que se traduz num maior bem-estar das pessoas, explica Joaquim Pinto, presidente da Associação Portuguesa de Educação Ambiental - ASPEA. Há, também outras vantagens, nomeadamente a nível sonoro, proteção dos raios solares, sequestro de carbono.
Por isso, Joaquim Pinto insiste que os decisores políticos devem ter especial sensibilidade para as questões ambientais e procurarem incorporar as árvores existentes nos projetos de requalificação urbana. Nem sempre a solução tem de ser o abate e é possível encontrar alternativas para acomodar raízes, tratar espécies doentes ou atrofiadas, entre outros problemas.
Renovação leva 20 anos
"As árvores novas que se plantam vão precisar de 20 anos para terem o mesmo efeito das que se estão a abater", alerta Joaquim Pinto, adiantando que gostaria que houvesse "transparência" na divulgação dos dados que justificam os abates e que as associações de cariz ambiental e a população fossem ouvidas aquando do planeamento da cidade.
Ribau Esteves, presidente da Câmara, garante que "em todo o trabalho de qualificação urbana, de gestão do território, essas matérias das alterações climáticas e calor são sempre consideradas". "A quantidade de árvores que plantamos é muito maior do que as que retiramos e as que tiramos foram todas por problemas fitossanitários, por colocarem em risco as pessoas ou desconformidade grave com a qualidade do espaço público."
No novo estacionamento junto à estação da CP "plantamos cerca de uma centena de árvores", aponta o edil. Em Esgueira, no Parque Aventura, várias das árvores novas ou transplantadas da Avenida Dr. Lourenço Peixinho não pegaram "porque o solo é muito argiloso", mas a Câmara planeia substituí-las.
Lá fora
Barcelona
Cientistas propõem pintar os telhados da cidade de Barcelona de branco, para ajudar a combater o efeito ilha de calor. A investigação da Universidade Autónoma de Barcelona mostra que os materiais de construção pré-existentes em Barcelona retêm a radiação solar diurna, contribuindo para o acumular de calor em toda a zona urbana. Estimam que a pintura poderia reduzir as temperaturas até 4,7 graus.
Cidades suíças
Para reagir ao problema das ilhas de calor, Sion - a cidade suíça mais afetada pelo aquecimento registou uma subida de um grau de temperatura média nos últimos 20 anos - criou vários espaços verdes e plantou árvores em em antigos estacionamentos. Lucerna e Genebra também pretendem plantar mais árvores, especialmente espécies resistentes ao calor e à seca. Em Genebra, a meta é aumentar a área de solo arborizado de 21% para 30% até 2050.
Estados Unidos
A estratégia da autarquia para fazer face às ilhas de calor na cidade de Los Angeles, EUA, passa por pintar muitas das estradas pretas com um revestimento branco reflexivo chamado CoolSeal. Este revestimento foi originalmente projetado pelos militares para manter os aviões espiões mais frios e assim passarem despercebidos das câmaras infravermelhas de satélite. A temperatura pode descer até cerca de 5,55 °C.