A mudança da hora, que aconteceu no passado domingo, tem um impacto negativo no sono, sobretudo nas pessoas noctívagas e nos adolescentes. Um estudo liderado por Cátia Reis, investigadora pós-doutorada do Instituto de Medicina Molecular (iMM) João Lobo Antunes, prova que o organismo busca pistas ambientais, como a luz solar, e não se deixa enganar pelos ponteiros dos relógios.
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"Por mais que andemos a mudar a hora do relógio, a nossa biologia não nos engana", assegura Cátia Reis. O trabalho publicado dia 21 de março na revista científica "Journal of Pineal Research" demonstra que, ao mudar a hora, "vamos aumentar a distância entre a hora do relógio e a hora do sol. Esse desalinhamento faz com que tenhamos um desfasamento com a nossa hora biológica porque a nossa biologia responde à luz do sol".
Neste estudo, os investigadores analisaram 82 pacientes do Centro de Medicina do Sono (CENC), em Lisboa, registando os horários de sono e a hora de produção de melatonina, a hormona que o corpo produz na ausência de luz e induz ao sono.
"Verificámos que, durante o horário de verão, os pacientes adormeciam a uma hora semelhante, mas acordavam mais de uma hora antes nos dias de trabalho. Isto resulta numa perda sustentada de sono. O horário de verão retira uma hora de luz pela manhã, quando precisamos de luz para degradar a melatonina, e adiciona-a à noite, quando precisamos de escuridão para produzir melatonina", refere a investigadora.
Adiam a ida para a cama
A mudança do relógio faz "aumentar a noturnidade", algo que afeta a população em geral, mas tem impacto sobretudo junto dos mais noctívagos, que "arrastam" ainda mais a hora de ir para a cama. Entre os grupos mais vulneráveis estão os "adolescentes, que são mais noctívagos". Isto é particularmente grave porque os jovens estão "numa fase em que a exigência em termos cognitivos e relacionais é grande" e a mudança da hora "agrava a privação de sono", sublinha a investigadora.
De acordo com a investigadora, há outros estudos que apontam implicações negativas do desfasamento entre o tempo solar e biológico, "como o aumento do risco de desenvolver certas doenças ou o aumento da frequência de acidentes nos dias que se seguem à mudança de hora".
As conclusões apoiam que se deve "manter a hora que é mais próxima da hora solar, que é a de inverno", algo que as sociedades europeias de sono e de ritmos têm vindo a defender. Cátia Reis está a participar num outro trabalho sobre o sono e a influência da luz que envolve diversos países da Europa, nomeadamente Espanha, Itália e Finlândia.