Vendas subiram em 2022 por causa da procura de produtos sem receita. Dormir pouco e sem qualidade tem impacto na saúde
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Os portugueses estão a recorrer a mais fármacos para conseguirem dormir e particularmente a medicamentos sem receita médica. Só no ano passado, deixaram 87,39 milhões de euros nas farmácias, mais 10 milhões do que no ano anterior, o que dá uma média de 7,3 milhões de euros por mês. Hoje, assinala-se o Dia Mundial do Sono e tudo indica que se está a dormir pior.
De acordo com dados da consultora IQVIA Portugal, avançados ao JN, em 2022 a venda de medicamentos sujeitos a receita médica ascendeu a 67,3 milhões de euros, a que se somam 20,1 milhões de euros de medicamentos não sujeitos a receita médica. Isto totaliza 87,4 milhões de euros gastos, no ano passado, nas farmácias, em indutores de sono (desde sedativos a tranquilizantes, para dormir, hipnóticos e calmantes). Trata-se de uma subida de cerca de 10 milhões de euros face a 2021, altura em que as farmácias venderam em medicamentos com e sem receita médica perto de 77,4 milhões de euros. De fora ficam ainda os produtos vendidos nas parafarmácias, onde foram gastos 5,5 milhões.
O aumento do consumo de medicamentos e suplementos para dormir "é preocupante", diz Mafalda van Zeller, médica que coordena a Comissão de Trabalho de Patologia Respiratória do Sono da Sociedade Portuguesa de Pneumologia (SPP), alertando que "pode disfarçar problemas do sono mais graves que devem ter um acompanhamento diferenciado".
Deve procurar ajuda
Quem sente dificuldade em dormir deve procurar o médico de família. Os casos que precisam de diagnóstico e tratamento mais específico devem depois ter acompanhamento diferenciado, acrescenta, sublinhando que os distúrbios do sono, como a insónia e a apneia do sono, "são cada vez mais prevalentes e têm impacto na saúde física e mental".
No Centro Hospitalar e Universitário de São João, onde trabalha, a procura por consultas relacionadas com o sono "é crescente todos os anos", e também "a resposta se tem organizado". "Há uma tendência para o desenvolvimento de centros de sono, de responsabilidade integrada" e há hospitais a "articularem várias especialidades para, em conjunto, encontrarem a melhor abordagem para as doenças do sono".
Um inquérito realizado nas redes sociais (2184 respostas) da SPP lança pistas para a dimensão do problema: 52% dos inquiridos admitem que raramente ou apenas às vezes dorme bem, 75% dorme menos de 7 horas e 19% dorme menos de 6 horas por noite. Cerca de 44% refere já ter feito medicação para dormir e 12,5% faz medicação todos os dias.
"Além de dormirem com pouca qualidade, [as pessoas] têm pouca disponibilidade para o fazer e isto traduz um problema do estilo de vida das sociedades atuais, com menos tempo", diz Van Zeller. Portugal acompanha a "tendência internacional crescente de as pessoas, sobretudo estudantes e mulheres, "roubam" horas ao sono para lazer por terem muitos afazeres e compromissos durante o dia.
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Tem impacto noutras doenças
A privação de sono está associada a doenças cardiovasculares, problemas do metabolismo como obesidade, alteração da capacidade de decisão, enfraquecimento do sistema imunitário, capacidade de aprendizagem, humor e outras.
Como ajudar a dormir melhor
Deve-se ter um horário regular para deitar e acordar, evitar exposição a tecnologia (telemóveis, computadores, etc.) e alimentos estimulantes (café, chá preto, chocolates) antes de ir dormir, fazer exercício físico regular.
Procurar ajuda é importante
Os distúrbios do sono, como a insónia e a apneia do sono, são cada vez mais prevalentes e têm impacto na saúde física e mental, pelo que a sua suspeita deve levar à procura de avaliação médica especializada em consulta do sono.
Dados
5,5 milhões de euros gastos em 2022 nas parafarmácias em produtos e calmantes para dormir (sem receita médica). Foram vendidas 384 849 embalagens.