Cinco candidatos com um pé na segunda volta. Mendes lidera, com Seguro a décimas. Almirante afunda-se, Ventura e Cotrim disparam
Texto de Rafael Barbosa e gráficos de Inês Moura Pinto
É uma situação inédita na campanha para as eleições presidenciais: os primeiros cinco candidatos estão separados por menos de seis pontos percentuais e qualquer deles pode passar à segunda volta, se tivermos em conta a margem de erro da sondagem de dezembro da Pitagórica para o JN, TSF, TVI e CNN. Luís Marques Mendes mantém-se na frente (20,7%), mas perde quase três pontos face a novembro. O cenário é mais sombrio para Henrique Gouveia e Melo, que cai para o quarto lugar (15%), acumula uma queda de quase 13 pontos desde outubro e fica apenas uma décima acima de João Cotrim Figueiredo (14,9%), com o liberal a crescer quase seis pontos em dois meses. Em alta estão também António José Seguro, que acrescenta dois pontos ao pecúlio de novembro e chega ao segundo lugar (19,9%), e André Ventura (19,1%), com um salto de quatro pontos.
A incerteza quanto ao resultado da primeira volta, marcada para 18 de janeiro, aprofunda-se quando se se analisa ao detalhe alguns dos resultados da sondagem. Desde logo, porque entre os três primeiros (Mendes, Seguro e Ventura) a diferença é inferior a dois pontos percentuais, ou seja, estão em situação de empate técnica: o valor mínimo atribuível ao ex-líder do PSD (18,1%), é inferior ao máximo do líder do Chega (21,6%).
Por outro lado, o independente e o liberal, embora num patamar abaixo dos três primeiros, têm ainda um pé na segunda volta: o máximo a que pode aspirar Cotrim (17,4%), que está em quinto lugar, é igual ao patamar mínimo de Seguro, que está em segundo. Finalmente, o número de indecisos subiu cinco pontos entre novembro e dezembro e é agora de 17,2%.
Almirante cai 13 pontos em dois meses
O trabalho de campo da sondagem decorreu entre 11 e 19 de dezembro, ou seja, quando estavam já cumpridos 25 dos 28 frente-a-frente entre os oito candidatos principais. O último é precisamente esta segunda-feira, entre Gouveia e Melo e Marques Mendes, dois candidatos em queda na série de sondagens da Pitagórica. E é possível que sejam os debates a principal explicação para algumas oscilações.
No caso do almirante, que já reconheceu implicitamente que o modelo o prejudica, entre outubro, quando ainda não tinha havido nenhum confronto, e o momento atual, em que já só tem uma oportunidade, a perda foi de quase 13 pontos percentuais. Ao contrário, e no mesmo período, Cotrim subiu quase seis pontos e Ventura quase cinco. Sendo certo que ambos são bastante experimentados e relativamente eficazes nas batalhas televisivas.
Esquerda anémica, mas sem voto útil
Seguro parece ser outro candidato que foi capaz de conquistar algum terreno com os frente a frente nas TV, uma vez que está agora em segundo e a escassas oito décimas de Mendes. O ex-líder socialista tem insistido no facto de ser o único candidato com credenciais de Esquerda que pode chegar à segunda volta, mas os resultados não para o sucesso dessa linha de argumentação.
É certo que houve alterações, com Jorge Pinto, deputado do Livre, a chegar aos 3%, o mesmo patamar do comunista António Filipe, mas a bloquista Catarina Martins cai para os 2,7%. Feitas as contas, os três candidatos à Esquerda do PS somam quase nove pontos percentuais, praticamente o que o mesmo que há um mês. Ou seja, Seguro terá de fazer algo mais para conquistar o "voto útil" destes eleitores.
Seguro mais eficaz que Mendes no partido
Na análise à transferência de votos entre as legislativas estas presidenciais virtuais percebem-se também algumas das forças e fraquezas de cada um dos principais candidatos. Mendes, apesar de estar em primeiro, só consegue convencer quatro em cada dez eleitores de Montenegro. Seguro, muitas vezes acusado de não ser capaz de penetrar no eleitorado do seu partido de origem, é na verdade mais eficaz que o social-democrata: consegue cinco em cada dez eleitores do PS.
André Ventura é o que tem o eleitorado mais fiel: sete em cada dez votantes do Chega. O outro lado da moeda é que continua a valer menos do que o seu partido. Já no que diz respeito a Cotrim, uma das explicações para ir além da base da Iniciativa Liberal é o facto de convencer praticamente dois em cada dez eleitores da AD. O almirante é o candidato que tem uma distribuição de voto partidário mais equilibrada, com tendência para chegar a mais eleitores socialistas: quase dois em cada dez.
Ventura bate recordes na taxa de rejeição
Quando falta menos de um mês para a primeira de duas voltas, é igualmente relevante perceber onde é que está o limite aparente de cada candidato. Nessa matéria, e sem surpresa, as piores notícias são para André Ventura, relativamente eficaz a captar o voto dos seus, mas incapaz de ir mais além: a sua taxa de rejeição (a percentagem do que respondem que jamais votariam) destaca-se por estar bem acima de todos os outros, com 73% (o que, aliás, ajuda a explicar por que razão é derrotado em todos os cenários de segunda volta). Os que mais repudiam o líder do Chega são os eleitores mais velhos (79%), os que têm melhores rendimentos (79%), os que vivem em Lisboa (76%) e as mulheres (com mais sete pontos do que os homens).
Os outros quatro favoritos oscilam entre uma taxa de rejeição de 45% (Seguro, com destaque para os mais pobres, onde chega aos 52%) e de 50% (Gouveia e Melo, com destaque para os dois escalões etários entre os 35 e 54 anos, onde chega aos 58%). Pelo meio ficam Mendes, com 46% (com destaque para a faixa etária dos 55 a 64 anos, com 52%), e Cotrim, com 49% (com destaque para os que têm 65 ou mais anos, com 64%).
Só há dois com potencial acima dos 50%
A pergunta com que se mede a rejeição também permite avaliar o potencial de voto, ou seja, até onde é que cada candidato poderá chegar neste ciclo eleitoral: e neste capítulo é Seguro que vai na frente (53% votariam de certeza ou talvez votassem), ainda que por um escasso ponto de vantagem sobre Mendes (52%). Aliás, e como se pode ler numa análise separada a um conjunto de dez cenários de segunda volta, os antigos líderes socialista e social-democrata (ambos por períodos curtos e sem grande sucesso) empatariam rigorosamente a 48% (sem distribuição de indecisos).
Gouveia e Melo e Cotrim Figueiredo podem ambicionar o patamar dos 46%, enquanto Ventura, naturalmente em espelho com a elevada taxa de rejeição, nunca passaria, nesta altura, dos 25% (se o conseguir, então sim, poderá dizer que vale mais do que o seu partido).
Socialista lidera dos 45 anos em diante
Numa sondagem com uma amostra de mil inquéritos é igualmente valiosa a informação contida nos seus vários segmentos (género, idade, classe social e regional). E neste particular é António José Seguro que pode cantar vitória, uma vez que lidera em seis dos 15 subgrupos, com destaque para os três escalões etários mais velhos (dos 45 anos em diante), com destaque para os que têm 65 ou mais anos, com 20,5% (no caso dos segmentos não há distribuição de indecisos). Mas vai igualmente à frente na classe média e entre os que vivem na metade Sul do país (Lisboa, Alentejo, Algarve e Ilhas).
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Apesar de estar em terceiro lugar nas intenções de voto, André Ventura vai à frente em quatro segmentos, com destaque para os que têm 35 a 44 anos (23,9%), os mais pobres, os homens (mais cinco pontos do que entre as mulheres) e os que vivem na Região Centro. Só depois surge Luís Marques Mendes, que lidera em três subgrupos da amostra, em particular os que vivem na Região Norte (19,2%), mas também entre as mulheres e entre os que têm 18 a 24 anos (ainda que o social-democrata, a exemplo de Seguro, seja bastante mais forte entre os mais velhos (55 anos em diante).
Jovens e os mais ricos estão com Cotrim
João Cotrim Figueiredo, ao contrário, reina entre as duas faixas etárias mais novas: empara com Mendes nos 18/24 anos, mas lidera muito destacado nos 25/34 (22%), sendo evidente uma certa incapacidade de apelar aos mais velhos. O liberal está bem à frente entre o grupo dos que têm melhores rendimentos (mais três pontos que Seguro e mais cinco que Mendes).
Henrique Gouveia e Melo já não lidera nenhum dos segmentos, ao contrário do que acontecia nas sondagens de outubro e novembro. O melhor que consegue, em termos de posição relativa, é um segundo lugar entre os mais velhos (19,8%). A sua penetração é equibrada nas diferentes regiões, mas nota-se que o apoio é maior, quanto menor o rendimento dos eleitores, tal como no caso de Ventura e de Mendes. Exatamente o contrário de Seguro e Cotrim, que ganham fôlego eleitoral à medida que os rendimentos vão crescendo.
Ficha Técnica
Sondagem realizada pela Pitagórica para a TVI, CNN Portugal, TSF e JN com o objetivo de avaliar a opinião dos portugueses sobre temas relacionados com as eleições presidenciais de 2026. O trabalho de campo decorreu entre os dias 11 e 19 de dezembro de 2025. A amostra foi recolhida de forma aleatória junto de eleitores recenseados em Portugal e foi devidamente estratificada por género, idade e região. Foram realizadas 2012 tentativas de contacto, para alcançarmos 1000 entrevistas efetivas, pelo que a taxa de resposta foi de 49,7%. As 1000 entrevistas telefónicas recolhidas correspondem a uma margem de erro máxima de +/- 3,16% para um nível de confiança de 95,5%. A distribuição de indecisos é feita de forma proporcional. A direção técnica do estudo é da responsabilidade de Rita Marques da Silva. A ficha técnica completa, bem como todos os resultados, foram depositados junto da ERC - Entidade Reguladora da Comunicação Social que os disponibilizará para consulta online.

