A inteligência artificial está a ajudar os médicos do IPO do Porto a detetarem pólipos de vários tamanhos e formas em colonoscopias a doentes com síndrome de Lynch, a causa mais frequente de cancro colorretal. O estudo acaba de receber um prémio europeu.
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O Instituto Português de Oncologia (IPO) do Porto foi um dos oito premiados a nível europeu e único em Portugal com o Prémio de Pesquisa ESGE Medtronic.
A distinção foi anunciada no mês de sensibilização contra o cancro do intestino.
Mais de 10 mil casos de cancro do intestino por ano e mais de 4200 mortes
O estudo "Accuracy of Artificial Intelligence-based Colonoscopy in Lynch Syndrome: when you should never miss an adenoma" é mais um exemplo de como a inteligência artificial pode ser útil na Medicina, ajudando a detetar o que escapa ao olho humano e permitindo diagnósticos mais precoces.
A investigação visa determinar a sensibilidade da colonoscopia assistida por inteligência artificial em doentes com síndrome de Lynch.
Para realizar o estudo, a unidade recebeu dois sistemas de inteligência artificial que detetam automaticamente e em tempo real pólipos de vários tamanhos, formas e morfologias.
"É com muito orgulho que recebemos esta distinção que vem destacar o papel do IPO do Porto enquanto instituição de saúde que investe em métodos de diagnóstico mais precisos, de forma a diagnosticar doenças neoplásicas em fases mais precoces e assim conseguir tratar com mais eficácia", afirma Mário Dinis Ribeiro, diretor do Serviço de Gastrenterologia do IPO Porto, citado em comunicado de imprensa.
O estudo incidiu sobre a Síndrome de Lynch, doença causada por mutações nos genes de reparação do ADN que é a causa mais frequente de cancro colorretal hereditário.
Funciona como um segundo par de olhos especializados, que não se distraem nem são afetados pelo cansaço
Nestes doentes, os pólipos (adenomas) têm uma maior probabilidade de apresentarem características de alto risco e representam uma progressão mais rápida para cancro. Por isso, é importante minimizar os pólipos potencialmente não identificados na colonoscopia de rastreio.
"O estudo, que foi iniciado em fevereiro de 2021 e tem o fim previsto para o final do ano de 2022, inclui cerca de 65 doentes. Neste grupo de doentes, os sistemas baseados em inteligência artificial podem ser particularmente úteis em diminuir os missings da colonoscopia e consequentemente diminuir as neoplasias de intervalo", explica Cláudia Pinto, autora do estudo, no mesmo comunicado.
De acordo com a nota de imprensa, o sistema de diagnóstico utilizado no estudo é o primeiro e único sistema de deteção computadorizado disponível no mercado que utiliza a inteligência artificial para identificar adenomas durante a colonoscopia de rotina.
"É treinado pela revisão de mais de 13 milhões de imagens de pólipos de várias formas e tamanhos", refere a instituição, explicando que "funciona como um segundo par de olhos especializados, que não se distraem nem são afetados pelo cansaço, contribuindo de forma significativa para o aumento do número de lesões detetadas durante a colonoscopia".
Todos os anos, são diagnosticados mais de 10 mil casos de cancro do intestino e registam-se mais de 4200 mortes associadas a esta patologia. E estima-se que a pandemia de covid-19 tenha atrasado o diagnóstico de cancro colorretal para 83 mil doentes europeus.
Em 2020, a Sociedade Europeia de Endoscopia Gastrointestinal e a empresa de tecnologia médica Medtronic lançaram o "AI Research Award", de forma a apoiar a aplicação da inteligência artificial no campo da colonoscopia e ajudar os países europeus num momento crítico devido à pandemia.
Foram premiadas oito candidaturas de seis países europeus, entre as quais se destaca a do IPO do Porto.