Presidente da Sociedade de Gastrenterologia assume cargo internacional e deixa o alerta: há pessoas cada vez mais novas a desenvolver cancro colorretal.
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A indicação para fazer a primeira colonoscopia deve ser antecipada dos 50 para os 45 anos, o que iria ajudar a detetar e tratar mais precocemente lesões precursoras de cancro colorretal, uma doença oncológica que mata, por dia, em Portugal, 11 pessoas. Esta é a principal preocupação de Guilherme Macedo, diretor do serviço de Gastrenterologia do Centro Hospitalar Universitário de São João e presidente da Sociedade Portuguesa de Gastrenterologia, que, ontem, assumiu a presidência da Organização Mundial de Gastrenterologia (OMG). Vai desempenhar as funções nos próximos dois anos.
Portugal ainda tem "como normas em vigor o rastreio a partir dos 50 anos. E, como primeira modalidade, ainda está proposto pela DGS a pesquisa de sangue oculto nas fezes", diz Macedo, defendendo que se deve antecipar a idade e privilegiar a realização de endoscopias, já que evidências mostram que há pessoas mais novas que desenvolvem este tipo de cancro e a colonoscopia é mais eficiente.
"Defendemos que a primeira observação seja endoscópica porque o rastreio através do sangue oculto nas fezes é sofrível, com diversos problemas, como a adesão da população, a necessidade de fazer mais vezes a pesquisa, muitos falsos positivos e falsos negativos".
Cancro sem sintomas
Já a observação endoscópica permite, "no mesmo gesto, identificar potenciais lesões precursoras, como os pólipos, e removê-las", salienta Guilherme Macedo, explicando que este gesto é importante porque o cancro colorretal não tem sintomas na fase inicial e, quando é detetado, já está numa fase muito avançada. No caso de uma colonoscopia normal, acrescenta, "só 10 anos depois será recomendada nova observação".
Macedo defende que Portugal deve ter um "programa regular" de rastreio baseado na endoscopia digestiva, com a primeira observação a passar dos atuais "50 anos para os 45", algo que já acontece em alguns países. Há condições para fazer esta mudança, garante, pois "temos profissionais competentes e instituições capazes". Para isso, contudo, é necessária "uma visão organizativa que coloque não só os hospitais a proceder a este tipo de exames, mas também outras estruturas, mesmo não públicas".
Doença a crescer
"A oncologia digestiva tem tido um crescimento exponencial em todo o Mundo e justifica-se uma atenção redobrada, não só pelo tipo de diagnóstico que podemos oferecer, mas sobretudo na área preventiva", justifica o novo presidente da OMG. Apesar de ser "evitável", é a segunda causa de morte por cancro no mundo ocidental. "Em Portugal, por dia, morrem 11 pessoas, o equivalente a uma equipa de futebol", sublinha Macedo. No nosso país são diagnosticados, por ano, 8000 novos casos.
Macedo adianta que a aceitação das colonoscopias tem vindo a aumentar. O procedimento tem demonstrado "segurança, fiabilidade e conforto, já que na maioria das vezes agora são realizados sob sedação". Sugere que é "uma boa prática de saúde a pessoa candidatar-se a estes procedimentos".
Tome nota
Cuidar da alimentação
O que comemos e a forma como comemos conta. Os médicos recomendam cuidados alimentares, a adoção da dieta mediterrânica, diversificada e rica em nutrientes, com mais frutas e legumes e diminuição de consumo de carne vermelha.
Obesidade prejudica
Fazer exercício físico de forma regular e controlada é muito importante para haver uma mobilização dos nutrientes e evitar a obesidade. A obesidade contribui muito negativamente para a oncologia digestiva.
Muito mortais
É na área digestiva que se encontram os cinco principais tumores (colorretal, estômago, esófago, fígado e pâncreas) responsáveis por enorme fatia de mortalidade oncológica. O colorretal é o mais preocupante.
Promover endoscopia
O tema do Dia Mundial da Saúde Digestiva (29 de maio de 2022) será o cancro colorretal. O objetivo é promover a endoscopia digestiva como forma de combater esta doença.