Há mais de duas dezenas de anúncios de peregrinos a troco de dinheiro.
Corpo do artigo
O pagamento de promessas alheias, a troco de dinheiro, está a tornar-se um mercado cada vez mais apetecível. A Igreja não aprova este tipo de "aproveitamento" da devoção religiosa, mas o facto é que continua a crescer o número de candidatos que se disponibilizam para fazer uma peregrinação a pé em nome de outra pessoa, a troco de dinheiro. Na Internet, é possível encontrar mais de duas dezenas de anúncios de pagadores de promessas. Os preços variam, como em qualquer outro negócio, e podem ir dos 500 euros aos 2500 euros, por uma caminhada entre Lisboa e o Santuário de Fátima. As motivações também.
"Confesso que é uma forma de conseguir algum dinheiro extra e que isso pode ser visto como mercantilismo, mas eu não imponho nada a ninguém. Gosto de caminhar e se com isso posso ajudar alguém, junto o útil ao agradável", afirma Nélson ao JN, um funcionário público de 46 anos, que pede para que não seja revelado o seu apelido.
Natural de Torres Novas, mas a trabalhar em Lisboa, é um dos vários pagadores de promessas que disponibilizam o serviço no OLX. Em ano e meio, já foi contratado três vezes, para peregrinar até Fátima. Duas a partir de Lisboa, uma de Cascais. Cobrou entre 550 e 600 euros e assegura que quem lhe pagou ficou "satisfeito com o serviço".
Aplicação com GPS em estudo
Alexandre Pereira, 55 anos, aproveitou-se dos conhecimentos enquanto engenheiro informático e criou um site a disponibilizar-se para pagar promessas alheias há cerca de um ano, mas até agora não teve nenhuma encomenda. Decidiu fazê-lo porque gosta muito de caminhar e normalmente fá-lo sozinho, "o que não está muito longe do pagamento de promessas". Cobra 2000 euros pelo percurso entre Lisboa e a Cova da Iria e diz estar a desenvolver uma aplicação com sistema de georreferenciação para que quem paga possa acompanhar o percurso em tempo real. Como há dinheiro envolvido, admite que "pode parecer mal", mas adverte que não está "a fazer nada desonesto".
Para Carlos Gil, o decano dos pagadores de promessas em Portugal, o aumento de candidatos a um serviço que começou a disponibilizar há mais de 15 anos é salutar. Faz em média duas a três peregrinações encomendadas por ano, e fora do país já ligou Luanda a Muxima (Angola), percorreu a Trilha Inca até Machu Picchu (Peru) e palmilhou mais de 200 quilómetros entre São Paulo e a Nossa Senhora da Aparecida (Brasil), a preços obviamente mais caros, mas que se escusa a revelar.
Neste momento, a caminho de Fátima, no cumprimento de mais uma peregrinação em nome de outrem, pela qual cobra 2500 euros, este agente imobiliário, 53 anos, católico assumido, acredita que a maioria dos pagadores de promessas está "para servir" e não apenas "para faturar".