A Confederação Portuguesa do Voluntariado (CPV) apontou uma "quebra significativa" do número de voluntários mais velhos durante este ano, resultado que explica ter sido deixado pela pandemia da covid-19. No âmbito do Dia Internacional do Voluntário - que se assinala esta segunda-feira em todo o mundo - a confederação pede um maior interesse político, bem como a criação de uma agenda nacional para aumentar os níveis de participação em Portugal.
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"Pelo diálogo que estabelecemos com as nossas 43 confederadas percecionamos que houve uma quebra significativa de voluntários numa faixa etária mais avançada. Está a ser difícil ultrapassarem os medos gerados pelo fácil contágio do novo coronavírus", avançou, ao JN, Eugénio Fonseca. Segundo o presidente da CPV, "os setores mais afetados estão a ser os da área da ação social, da prestação dos cuidados de saúde e das diferentes atividades de cultura recreio, e desporto, dinamizados pelas inúmeras coletividades espalhadas pelo país".
Neste Dia Internacional do Voluntário - que, por determinação da Organização das Nações Unidas (ONU) se assinala a 5 de dezembro, - o presidente da confederação defendeu ser "fundamental que todas as forças políticas, o Governo, os Municípios e Juntas de Freguesia coloquem o voluntariado como parte integrante nas suas agendas políticas e de governo". Eugénio Fonseca lamentou o desinteresse das forças políticas pelo voluntariado e a existência "por parte de um ou outro partido" de alguma "suspeição desonrosa por esta área".
Além de ter referido um maior interesse político, o presidente da CPV dirigiu-se também aos cidadãos: "Não deixo de afirmar que ao Estado compete criar condições para a promoção e operacionalização do voluntariado, mas que a responsabilidade pela sua organização e gestão é, exclusiva, da sociedade civil". Apelou, por isso, à necessidade da criação de uma Agenda Nacional para o Voluntariado, com o apoio do Estado, para que Portugal possa alcançar níveis de participação nos quais "todos tenham lugar e sintam que são respeitados os seus direitos e que não podem alienar as suas responsabilidades cidadãs".
De acordo com o último Inquérito ao Trabalho Voluntário, do Instituto Nacional de Estatística (INE), em 2018 a taxa de voluntariado em Portugal foi de 7,8%. Nesse ano, 695 mil pessoas com 15 ou mais anos trabalharam voluntariamente 263,7 milhões de horas sem qualquer tipo de remuneração. As idades predominantes variavam entre os 15 e os 24 anos (11,3%), havendo poucos voluntários (4,6%) com mais de 64 anos.
Os dados mostraram também que o número de voluntários tem vindo a crescer com o nível de escolaridade. Há quatro anos 15,1% dos indivíduos ingressaram com o ensino superior. "Pelo crescimento de dinâmicas de mobilização em que vamos participando em escolas de vários graus de ensino, em Universidades e Institutos Superiores Politécnicos, estamos convencidos de que a tendência é para se manter esse aumento", defendeu Eugénio Fonseca. Já as pessoas em idade de vida ativa representavam, em 2018, 7,8% do voluntariado. "Há que fazer uma mobilização muito assertiva para que os cidadãos compreendam que não se pode guardar esta responsabilidade de cidadania participativa só para quando deixarem a vida ativa", advertiu o presidente da CPV.
A CPV irá celebrar este dia com um evento, em parceria com a Câmara Municipal de Cascais, a partir das 9:30 horas, na Casa das Histórias Paula Rego, em Cascais, durante o qual será entregue o Troféu Português do Voluntariado nas categorias geral, jovem, sénior e carreira. Durante o dia, irão decorrer outras iniciativas em Lisboa, Setúbal, Loures e Guimarães.