Em julho, realizaram-se menos 819 mil atendimentos do que há um ano. Consultas por telefone duplicam.
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No passado mês de julho, realizaram-se 940 mil consultas presenciais nos Cuidados de Saúde Primários (CSP), o que representa uma quebra de 47% face a período homólogo do ano ano passado. São menos 819 mil atendimentos, quase metade do total na Região Norte. Responsáveis falam em reorganização de serviços devido à pandemia, falta de recursos humanos e físicos e tarefas obsoletas, como a de ligar todos os dias a doentes covid-19 assintomáticos.
Os dados do Portal da Transparência do SNS mostram que, face a junho deste ano, realizaram-se mais 140 mil consultas, número, no entanto, insuficiente para recuperar as centenas de milhares de atendimentos que ficaram por fazer durante o estado de emergência. Em contrapartida, as consultas não presenciais, nomeadamente por telefone, mais do que duplicaram, atingindo os 1,747 milhões em julho. Incluindo-se aqui o acompanhamento telefónico diário que os CSP continuam a fazer aos doentes infetados por SARS-CoV-2 que estão em casa.
Se fizermos as contas a maio, junho e julho, aquando da retoma da atividade programada, contam-se menos 2,7 milhões de consultas presenciais (-53%) nos centros de saúde face a período idêntico do ano passado. Já as não presenciais, no mesmo período, dispararam 110%, com mais 2,6 milhões de contactos.
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Numa análise territorial, o Norte foi a região com a maior quebra, respondendo por 47% do total. Em julho, contavam-se menos 380 mil atendimentos face a igual mês de 2019.
Já no que concerne às consultas hospitalares, no acumulado de janeiro a julho deste ano face a período homólogo de 2019, contabiliza-se menos um milhão de atendimentos, num total de 6,3 milhões. A quebra maior verificou-se nas primeiras consultas (-21%).
Faltam recursos
Os presidentes da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar (APMGF) e da Associação Nacional das Unidades de Saúde Familiar (USF-AN) comungam dos constrangimentos. A começar pela Trace, plataforma de acompanhamento de doentes covid. "É obsoleta. Teve o seu interesse, mas agora já não tem, muitos são assintomáticos, e temos que ligar todos os dias, o acompanhamento devia ser casuístico", explica Rui Nogueira, da APMGF.
Depois, "infelizmente, temos uma retoma a várias velocidades; há assimetrias enormes, culpa das lideranças, da falta de recursos humanos e físicos", diz Diogo Urjais, da USF-AN. Com a pandemia a impor a reorganização de horários e espaços, agravando a evidência de que a "maioria dos centros de saúde não tem condições", numa altura em que o distanciamento entre utentes é a palavra de ordem, lembra.
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Médico na USF Norton de Matos, em Coimbra, Rui Nogueira, olha para a agenda enquanto conversa com o JN. Numa semana programada para setembro próximo, conta hoje menos um terço dos utentes que atendia antes da covid-19. Se a estes juntarmos "cerca de 20% a 30% que faltam às consultas, é muito", alerta.
O JN questionou o Ministério da Saúde, mas não obteve respostas em tempo útil.
Orientação de abril
Uma orientação de 25 de abril da Direção-Geral da Saúde institui a plataforma Trace Covid-19 e determina o seguimento clínico telefónico do doente em autocuidados pela equipa do centro de saúde ou USF.
Consultas em casa
As consultas médicas ao domicílio registaram uma quebra em julho face a período homólogo de 2019. No total, realizaram-se 10 249 consultas, menos 5117, de acordo com o Portal da Transparência.