Fundação Portuguesa do Pulmão vai lançar, ainda este ano, consultas via computador ou telemóvel ou não farmácia para ajudar a vencer dependência.
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Há cada vez mais pessoas a recorrer a ajuda médica para deixar de fumar e as listas de espera em alguns dos locais de consulta da rede do Serviço Nacional de Saúde (SNS) são cada vez mais longas. Perante a falta de resposta nos serviços públicos e a procura crescente, a Fundação Portuguesa do Pulmão (FPP) prepara-se para lançar, até ao final do ano, teleconsultas de desabituação do tabaco, via computador, telemóvel ou, em alternativa, na farmácia da área de residência.
"Nessas consultas, teremos médicos, psicólogos, o apoio de várias especialidades, que vão dar dicas para ajudar a deixar de fumar e também para ajudar a fumar de uma maneira diferente, porque na verdade é muito melhor fumar-se dois cigarros por dia do que dois maços", explica José Alves, cardiologista e presidente da FPP, acrescentando que terão a vantagem de poderem ser marcadas para o dia e a hora mais convenientes ao fumador e, no caso de serem na farmácia, de permitir fazer avaliações físicas.
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Respostas insuficientes
Os dados mais recentes da Direção-Geral da Saúde mostram que, entre 2012 e 2018, o número de primeiras consultas de apoio à cessação tabágica duplicou.
Em alguns locais, as listas de espera são longas "e com pandemia aumentaram muito", observa Paula Rosa, da Sociedade Portuguesa de Pneumologia: "As consultas que existem não dão resposta a tantos fumadores. Por outro lado, é muito importante que sejam feitas com relativa brevidade, e isso não acontece porque há ainda muito poucas em relação ao necessário. E se elas tiverem lugar dois ou três meses depois, a pessoa que quer deixar de fumar pode estar já noutra fase da decisão".
Nesse sentido, esta solução vem "colmatar um défice evidente" no tratamento de um problema em que, segundo os estudos, menos de 5% tem êxito em ultrapassá-lo sem qualquer ajuda. "Por ano, em média, cerca de 30% deixam de fumar com ajuda. Apesar de parecer um insucesso, tem um impacto brutal na saúde pública e sabemos que a persistência da decisão faz com que as pessoas acabem por deixar de fumar desde que sejam devidamente acompanhadas", acrescenta.
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No entanto, "isto representa apenas uma pequena parcela do que é necessário fazer nesta luta", alerta José Alves. A estratégia, defende, deve também passar pelo diagnóstico precoce da doença pulmonar obstrutiva crónica, que afeta os fumadores e que mata entre quatro e cinco mil pessoas por ano, mas que exige a realização de espirometrias, um exame desaconselhado nestes tempos, já que constitui um potencial risco para a transmissão do vírus decorrente da aerossolização.
195 locais de consulta de apoio intensivo à cessação tabágica em estabelecimentos do SNS em Portugal continental: 64 no Norte, 61 em Lisboa e Vale do Tejo, 51 no Centro, 14 no Algarve e cinco no Alentejo.
80% dos fumadores expressam o desejo de parar de fumar, mas apenas 35% tentam fazê-lo. O grande obstáculo é a síndrome de privação, explica Paula Rosa, da SPP.
30% de redução do hábito de fumar até 2025 face a 2010, em 116 países, prevê um relatório da Organização Mundial da Saúde. Em 2018, o número de homens fumadores registou uma quebra inédita.