No ano passado, pelo menos 11 pessoas morreram devido a veículos que circulavam no sentido oposto ao estabelecido. Maioria dos infratores tem entre 30 e 50 anos.
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A circulação de veículos no sentido oposto ao estabelecido resultou, nos últimos três anos (incluindo parte de 2022), em mais acidentes nas estradas portuguesas, face aos contabilizados em 2019. Há uma subida não consecutiva de vítimas mortais e de feridos graves e leves associados a este tipo de sinistros no mesmo período. De janeiro a outubro do ano passado morreram 11 pessoas na sequência de 226 acidentes em contramão, apontam os dados da GNR. A maioria dos condutores envolvidos tem entre os 30 e os 50 anos.
Alain Areal, diretor-geral da Prevenção Rodoviária Portuguesa (PRP), afirma ao JN que o consumo de álcool, a perda de capacidades cognitivas no caso dos condutores mais velhos e a inexperiência dos mais novos podem explicar a existência desta tipologia de acidentes. Nos primeiros dez meses de 2022, houve mais 43% de sinistros em contramão, em comparação com os números totais de 2019 (158 acidentes).
O aumento da quantidade de sinistros teve também reflexo na gravidade das vítimas. O ano de 2022 ainda não foi totalmente contabilizado pela GNR, mas já é possível verificar que, entre janeiro e outubro, as 11 mortes registadas por condução na direção contrária superam os números totais observados em 2019, 2020 e 2021 (ver infografia). Embora de forma ligeira, houve também mais feridos graves (quatro) e leves (12) do que no período pré-pandemia.
Ainda sem tecnologia eficaz
"Os dados de Portugal vão ao encontro da realidade apontada em estudos internacionais", diz Alain Areal. O responsável pela Prevenção Rodoviária Portuguesa explica que, segundo dados da Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária (ANSR), no período entre 2010 e 2019, as vítimas mortais de acidentes em contramão representaram 1% do total de mortes registadas nas estradas portuguesas. Foram 68 óbitos num total de 6880 mortes em nove anos.
Apesar de em 2019 a própria associação das concessionárias das autoestradas ter pedido mais formação para condutores acima dos 70 anos, por causa da circulação rodoviária em sentido oposto ao estabelecido, os dados mostram que são as pessoas entre os 31 e os 40 anos e os entre os 41 e os 50 a estar mais envolvidas neste tipo de sinistralidade, de acordo com dados da GNR. Também a PSP revela que "a faixa etária dos 30 aos 50 anos é a que apresenta maior incidência de condutores causadores de acidentes em contramão".
Há mais de 13 anos, a concessionária Brisa revelou a intenção de avançar com um projeto-piloto para "deteção automática de anomalias no tráfego", incluindo a condução no sentido contrário. Contudo, fonte da empresa disse ao JN que ainda não foi encontrada a "tecnologia que dê as necessárias garantias de eficácia que uma solução de segurança rodoviária exige".
Velocípedes a Infringir
Para Alain Areal, que cita as estatísticas da ANSR, há uma "grande representação" de velocípedes a infringir na circulação, com consequências no número de feridos. "Vemos, por vezes, estes comportamentos em alguns ciclistas", aponta. O automóvel continua, no entanto, a ser o veículo mais preponderante neste tipo de infração.
A sinalização nas estradas pode evitar comportamentos de risco e diminuir a incidência destes sinistros, explica o diretor-geral da PRP. A GNR avança, por exemplo, que é nos arruamentos e nas estradas nacionais que ocorrem mais estes acidentes. Foram 111 e 55 de janeiro a outubro do ano passado, respetivamente. A PSP regista, entre 1 de janeiro de 2019 e 21 de agosto de 2022, 759 acidentes em contramão em vias sem separador central e apenas três ocorreram em autoestradas.
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453 acidentes em contramão registados pela PSP (cerca de 53%), entre 1 de janeiro de 2019 e 21 de agosto de 2022 em que não se registaram vítimas, mas apenas danos materiais.
Distritos
Os distritos do litoral e com maiores centros urbanos registam o maior número de acidentes em contramão. De acordo com dados da GNR, entre 2019 e 2022, houve mais sinistros deste tipo em Faro (101) e no Porto (101). A PSP acrescenta Setúbal e Lisboa à lista dos distritos com maior número de ocorrências. Lisboa ocupa também o topo com o maior número de mortes devido à circulação no sentido oposto.