Balanço das vindimas é positivo e aponta para muita qualidade. Douro, Dão e Beira Interior com quebras de 10% a 15%. No Minho e Bairrada produção aumenta.
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O ano vitícola não é tão mau como se esperava. As ondas de calor e a seca, em julho e agosto, reprimiram o ânimo gerado por uma floração muito boa, mas, à medida que se lavam os cestos, não só as quebras de produção são menores do que o expectável, como a qualidade dos vinhos produzidos é excelente.
A vindima ainda não terminou, mas o cenário é comum às regiões vinhateiras, apesar de terem resistido de forma diferente. No Douro, no Dão e na Beira Interior, por exemplo, o calor extremo e o stresse hídrico forçaram as videiras a encherem menos os bagos. Na Bairrada e no Minho, os ares provenientes do mar e a maior humidade matinal ajudaram a compensar a falta de água no solo sem afetar o crescimento das uvas. Em todas elas, o ano seco trouxe menor incidência de doenças, nomeadamente míldio, o que permitiu fazer menos tratamentos e ter uvas em melhor estado a entrarem nas adegas.
Rui Paredes, presidente da Casa do Douro, diz que "não se confirma um mau ano de produção de vinho, apesar de ficar aquém de 2021 entre 10% a 15%". Ainda não consegue explicar como se passou de uma previsão negativa, em julho, para um pré-balanço positivo, apesar de tudo, mas acredita que as chuvas de setembro "podem ter tido algum efeito". No que concerne à qualidade, "é um ano excelente", o que se pode explicar pelo facto de "as uvas terem chegado às adegas em ótimo estado, talvez o melhor dos últimos anos".
Na região do Dão "a safra correu bastante bem", salienta Arlindo Cunha, presidente da Comissão Vitivinícola, apesar de ter ficado abaixo, "entre 10% a 15%", em relação à vindima anterior. As chuvas de setembro "ajudaram a recuperar o grau", o que "permitiu compensar a menor quantidade originada pela seca e pelos escaldões".
Chuvas de agosto e setembro
Na faixa de território Interior que vai de Figueira de Castelo Rodrigo ao Fundão há vindimas ainda a decorrer, mas existe a perceção de que, tal como nas outras regiões, o ano não vai ser tão mau como chegou a pensar-se. "Inicialmente contávamos com uma quebra de 30%, mas as chuvas de finais de agosto e setembro vão ajudar a baixar a perda para 10% ou 15%", refere Rodolfo Queirós, presidente da Comissão Vitivinícola Regional da Beira Interior.
Na área tutelada pela Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes, "a colheita está a ser excecionalmente boa, tal como a qualidade da uva". A presidente, Dora Simões, explica que "os indicadores apontam para um aumento que poderá andar à volta dos 10%, comparativamente com 2021". O ano mais seco que o habitual "trouxe benefícios à viticultura" na zona dos verdes.
José Pedro Soares, presidente da Comissão Vitivinícola da Bairrada, faz também um balanço positivo. "A qualidade dos vinhos brancos e dos rosados é ótima. Em relação aos tintos ainda é cedo, uma vez que ainda há muitos a fermentar, mas as indicações não são más". O volume pode aumentar "cerca de 5%" em relação a 2021. "Estar mais perto do mar e ter humidade matinal foram fatores extremamente benéficos para compensar a inexistência de água no solo", realça.
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Videiras morreram
O calor e o stresse hídrico não afetaram as regiões vinhateiras de forma homogénea. No Douro e no Dão há zonas mais secas onde há registos de muitas videiras que morreram à sede e terão de ser substituídas.
Rega não é solução
O presidente da Casa do Douro alerta que "há que tomar medidas para reduzir o consumo de água na vinha, escolhendo castas mais resilientes e alterando sistemas de condução, já que a rega não é solução".