O primeiro-ministro afirmou, esta terça-feira, que espera que ainda seja a ministra da Saúde demissionária, Marta Temido, a escolher a direção executiva do SNS e a levá-la ao Conselho de Ministros, que deverá reunir a 15 de setembro. António Costa admitiu que "não estava a contar" com a demissão e revelou que a morte de uma grávida, no sábado, ultrapassou a "linha vermelha" que Temido tinha traçado para si própria. E acrescentou: "desta vez", teve de aceitar o pedido da ministra.
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"Foi agora que o pedido de demissão foi apresentado e não me sentia em condições de não respeitar e não aceitar o pedido desta vez", referiu Costa na sua residência oficial, em São Bento.
O chefe do Governo explicou que há pastas "particularmente desgastantes do ponto de vista pessoal e emocional", considerando que o período da pandemia foi "duro" para a ministra.
Sobre as dificuldades que o SNS atravessa - no sábado, uma grávida morreu após ter sido transferida do hospital de Santa Maria, em Lisboa, por falta de vagas na neonatologia -, Costa afirmou: "Percebo que alguém estabeleça como uma linha vermelha a existência de falecimentos que ocorrem em serviços que estão na sua tutela. Admito que tenha sido uma gota de água".
Costa relativizou o facto de a demissão de Marta Temido ter sido comunicada durante a madrugada (a nota chegou às redações à 1.18 horas desta terça-feira). "Foi a hora a que conseguimos falar e a que eu consegui falar com o sr, presidente da República", justificou.
Quem quer mudanças políticas "tem de derrubar o Governo"
O primeiro-ministro admitiu que "não estava a pensar" que Marta Temido pedisse a demissão. Contudo, questionado sobre se compreendia os motivos apresentados pela ministra, assegurou: "Claro que compreendo. Se não compreendesse não tinha aceite o pedido".
Costa sublinhou que seria "natural e desejável" que ainda fosse Temido a apresentar a direção executiva do SNS ao Conselho de Ministros, de forma a não haver "mais atrasos" na aprovação do diploma. A reunião está marcada para 15 de setembro mas, "atendendo às novas circunstâncias" poderá ser antecipada, revelou o chefe do Executivo.
Costa também desvalorizou as críticas dos partidos, que têm referido que a mudança de políticas na Saúde seria mais importante do que a saída da ministra. "A Oposição tem sempre alguma coisa para dizer e raras vezes diz coisas muito originais", atirou o primeiro-ministro.
António Costa disse não estranhar as palavras dos partidos, antecipando que, quando se souber quem é o sucessor, estes dirão "que é pior do que aquele que saiu". Garantindo que o Executivo irá "prosseguir as reformas" em curso, deixou novo recado à Oposição: "Quem quer mudanças políticas tem de derrubar o Governo".
Costa confirmou ainda que o processo de substituição de Marta Temido "não será rápido", uma vez que ele próprio parte esta quarta-feira para uma visita de vários dias a Moçambique. "Não estava a contar com esta mudança e terei de pensar nisso", vincou, expressando a sua "gratidão muito profunda" à ministra demissionária.
Por agora, Costa apenas garante que ainda não escolheu o novo ministro. "Ainda não tive oportunidade de pensar", referiu.