Marcelo Rebelo de Sousa esperava muito mais de António Costa após criticar os "erros de orgânica" e os "vícios originais" do Governo. Com a remodelação reduzida à promoção de dois secretários de Estado, o presidente da República avisa que, se a "prata da casa" falhar, "isso recairá sobre o primeiro-ministro".
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Dentro do PS, as escolhas de Costa são vistas como estratégia para acomodar o grupo de Pedro Nuno Santos, "deixando confortável essa tendência", como refere o dirigente Daniel Adrião, e para garantir, deste modo, que o atual líder continuará ao comando do PS. Isto quando perdeu a oportunidade de um cargo europeu.
Também Marcelo queria que Costa tivesse aproveitado para resolver a falta de articulação no Governo, tal como defenderam, nos últimos dias, socialistas, dirigentes da Oposição e politólogos, como Pedro Silveira, que sublinhou ao JN o facto de Mariana Vieira da Silva, prometida super-ministra, ter "falhado" nesta missão.
A ministra da Presidência acumula a Administração Pública e o exigente Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), que tem levado Marcelo a endurecer os avisos. Aliás, fontes da Presidência citadas pelo Expresso apontam que esperava mudanças no Governo para garantir uma boa execução dos fundos europeus.
O presidente da República foi esta terça-feira muito claro a expressar a sua desilusão com Costa por ter optado por "mexer o menos" possível.
"O critério é fazer com a prata da casa para não mexer naquilo que existia", reagiu, após regressar de Brasília. Agora, "vamos ver. Se isso funcionar é boa ideia. Se não, retiraremos daí as conclusões", alertou.
Na véspera da tomada de posse de João Galamba como ministro das Infraestruturas e de Marina Gonçalves como ministra da Habitação, Marcelo sublinhou que "o primeiro-ministro terá dito que a razão fundamental da divisão em dois ministérios era óbvia: dar maior importância à Habitação", que absorve a segunda maior fatia dos fundos.
Habitação exclusiva
Para Daniel Adrião, que defende um vice-primeiro-ministro, "deveria ter tido havido uma remodelação profunda" e "mexidas estruturais para responder às críticas do presidente", também na articulação. Diz que Costa "teve a preocupação" de "deixar confortável a tendência" liderada por Pedro Nuno, escolhendo pessoas que lhe são próximas. E procura garantir a sua continuidade quando deixou escapar a presidência do Conselho Europeu.
Ao JN, Helena Roseta, autora da nova Lei de Bases da Habitação, sublinhou a importância do PRR e aplaudiu a estreia de um ministério exclusivo para a Habitação, dando-lhe "centralidade".