O professor de Ciência Política Pedro Silveira falou com o JN sobre as mais recentes escolhas de António Costa e o impacto que isso poderá ter no futuro do Governo.
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Concorda com as opções tomadas pelo primeiro-ministro, que optou por indicar para ministros dois secretários de Estado em vez de fazer uma remodelação profunda ou chamar personalidades de fora do Governo?
Neste contexto, não fazer uma remodelação alargada acarreta um risco enorme para o Governo porque sinaliza que o primeiro-ministro continua a desvalorizar a inusitada sucessão de casos.
Qual esperava que tivesse sido a atitude de António Costa perante a polémica com a secretária de Estado pela indemnização que recebeu da TAP e perante a demissão do ministro Pedro Nuno Santos?
Num momento em que se esperava um golpe de asa por parte do primeiro-ministro que permitisse um novo começo, que constituísse um ímpeto regenerador, António Costa opta por uma mensagem de "business as usual" ou "tudo como dantes, quartel-general em Abrantes". Esta é uma opção surpreendente porque revela uma atitude sobranceira, no sentido em que decide ignorar conscientemente erros e omissões do próprio Governo socialista que lidera.
Como avalia os avisos deixados ontem por Marcelo Rebelo de Sousa, alertando que, se as mudanças com a "prata da casa" não resultarem, a responsabilidade cairá em cima do primeiro-ministro?
No imediato, particularmente num contexto de maioria absoluta, conseguida nas eleições de janeiro, esta atitude tem potencial para causar graves danos reputacionais ao Governo. No médio prazo, a possibilidade de existirem mais casos, já que persiste a perceção de que nada foi feito, pode ser muito difícil de gerir politicamente, nomeadamente com o presidente da República, que, com as suas declarações, se autovinculou a uma maior fiscalização e responsabilização do Governo por estas escolhas.