Primeiro-ministro diz que volta "passismo". Irrita-se com BE por sugerir envolvimento nos apoios a Mário Ferreira.
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Cercado por ataques da Oposição, num cenário de crise, seca severa, incêndios e caos na Saúde, António Costa levou trunfos para o debate do estado da nação. Anunciou que já existe acordo com o setor social nas creches gratuitas para crianças até um ano de idade e, também para setembro, novas medidas de apoio a famílias e empresas. A Duarte Cordeiro coube revelar que o Conselho de Ministros vai hoje facilitar o uso de água reciclada.
O primeiro-ministro jogou também ao ataque, sobretudo contra Joaquim Miranda Sarmento, na estreia do líder parlamentar do PSD, e denunciou "o regresso do passismo puro e duro".
Na abertura do debate, Costa tentou esvaziar críticas, como a falta de resposta ao impacto prolongado da inflação. "Em setembro, iremos adotar um novo pacote de medidas para apoiar o rendimento das famílias e a atividade das empresas", garantiu. A seguir, disse que ficou ontem fechado o acordo com as misericórdias e com a Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade para as creches.
A estratégia passou ainda por afirmar que só foi preciso transferir 0,3% das grávidas e que, no caso dos incêndios, "mais de 90% das ocorrências foram extintas na primeira intervenção e mais de 85% queimaram menos de um hectare".
Por sua vez, o líder parlamentar do PSD denunciou o empobrecimento e a perda do poder de compra, procurando desmontar reformas e indicadores referidos pelo PS. "Portugal tem hoje o rendimento per capita inferior a 2016" e a "carga fiscal atingiu máximos históricos", exemplificou, quando a inflação chegou aos 9%. O primeiro-ministro acusou-o, entretanto, de ser o "elo de ligação" entre Rui Rio e "o passado", com "Maria Luís Albuquerque e toda a constelação do passismo na nova liderança".
"PSD em marcha à ré"
Costa detalhou depois as políticas defendidas por Miranda Sarmento num manual de 2019, com "pensamento económico e fiscal do velho novo revelho PSD". Partido que "não mudou de carril, mas conseguiu manter-se nos carris e entrar em marcha à ré".
Após Jerónimo de Sousa, líder do PCP, ter acusado o Governo de potenciar lucros dos grandes grupos como a Galp, Catarina Martins questionou Costa sobre o facto de "Mário Ferreira ser o maior beneficiário do Banco de Fomento" e estar a ser investigado. Instado sobre o seu envolvimento, respondeu "zero" à pergunta "insultuosa".
Costa voltou a estar sob ataque quando não respondeu a 17 deputados, limitando-se a dizer que já reconheceu problemas em vários setores como na Saúde e nos aeroportos, que geraram polémica com o ministro Pedro Nuno Santos. Para Catarina Martins, essa recusa mostra o "estado da maioria absoluta". Na Saúde, Rui Cristina (PSD) foi um dos mais críticos de Marta Temido, acusada de criar "jobs for the boys" ao propor um diretor executivo do SNS.
Já Duarte Cordeiro anunciou que, hoje, o Governo "tornará mais fácil o licenciamento e o uso da água reciclada". E prometeu reformas "muito significativas" na energia, água e florestas. Em setembro, anuncia a estratégia para animais errantes. Além do ministro do Ambiente, falou Adão e Silva, da Cultura. André Ventura esperava um debate "fortíssimo" com os ministros das Infraestruturas, Saúde e Administração Interna.
Elogios a Rui Rio
Costa quis cumprimentar Rio antes do debate e "agradecer o melhor contributo que deu ao país, sobretudo em momentos tão duros" como a pandemia.
Aviões contra fogos
O PSD criticou a aquisição tardia dos Canadair: "Porquê esperar sete anos? Não teria sido diferente se os aviões que dispensou em 2016 estivessem ao serviço de Portugal?".