O presidente da Iniciativa Liberal (IL) entende que o primeiro-ministro António Costa "não tem condições para continuar a exercer funções". Neste momento, há, pelo menos, "três pessoas do círculo íntimo do primeiro-ministro foram detidas, no âmbito de um processo que investiga suspeitas graves de corrupção".
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"Estamos, neste momento, perante factos de enorme gravidade. Não conhecemos, ainda, a extensão de tudo o que está a acontecer, mas essa gravidade decorre, desde logo, da reunião de urgência que o primeiro-ministro teve e acabou, há poucos minutos, com o presidente da República. Não sabemos o que foi alvo de discussão nesta conversa, mas sei o que seria normal acontecer num país em que as instituições políticas estivessem a funcionar. Não sei qual é o critério e o padrão ético do primeiro-ministro. Desconfio que seja baixo. O que aconteceria, hoje, num país em que as instituições políticas estivessem em funcionamento e num país em que a dimensão ética do primeiro-ministro correspondesse à exigência da função que desempenha, era chegar o primeiro-ministro à conclusão de que não tem condições para continuar a exercer funções", considerou, esta manhã de terça-feira, Rui Rocha, em declarações aos jornalistas na Assembleia da República.
O líder da IL lembra que Vitor Escária é chefe de gabinete do primeiro-ministro e esteve envolvido no processo Galp. "Pouco tempo depois de pagar uma multa em que reconhece o seu envolvimento naquele processo, foi reconduzido, de imediato, para funções próximas do primeiro-ministro. Vítor Escária esteve ligado, de forma muito direta, a José Sócrates", frisou. Rui Rocha lembra, também, o papel de destaque em "negócios de grande dimensão" de "Lacerda Machado, o melhor amigo do primeiro-ministro". A terceira pessoa do "círculo íntimo" do primeiro-ministro é João Galamba, ministro das Infraestruturas, "a quem António Costa amarrou o seu futuro político, quando insistiu, contra tudo, contra todos e contra o país, que João Galamba continuasse a ser ministro".
"Ainda há poucos dias, tivemos João Galamba no encerramento do debate do Orçamento do Estado" na Assembleia da República, recordou o liberal, certo de que o caminho só pode ser a dissolução da Assembleia da República e a convocação de eleições legislativas.
"Basta oferecer a cabeça de Galamba?"
Rui Rocha não tem dúvidas de que o futuro político de António Costa está "amarrado" ao de João Galamba, no dia em que decidiu mantê-lo no Governo contra a vontade do presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa. "Como é que António Costa pode sair disto depois de ter enfrentado o presidente da República, com João Galamba arguido? Basta oferecer a cabeça de João Galamba e de Duarte Cordeiro para continuar agarrado ao poder?", questiona o líder da IL, certo de que a única saída ética do primeiro-ministro é a demissão: "António Costa escolheu o seu próprio destino e o seu destino está agarrado ao de João Galamba".
Caso Costa não se demita, resta a Marcelo Rebelo de Sousa acionar a bomba atómica e dissolver o Parlamento, argumenta ainda. "Não podemos ter um país envolvido em corrupção, em podridão, em nepotismo e em incompetência. Se o o primeiro-ministro não tem um padrão ético que imponha a sua demissão neste momento, eu faço um apelo ao presidente da República. As instituições democráticas e políticas têm de funcionar. Não podemos ter um primeiro-ministro em funções com o seu círculo íntimo detido ou arguido num processo desta gravidade. O primeiro-ministro rodeou-se das pessoas que entendeu, não teve critério ético para escolher Vítor Escária, para ter uma amizade profunda e pessoal com Lacerda Machada e para manter, contra tudo e contra todos, João Galamba. Deve assumir as suas responsabilidades de ter arrastado o país para um lamaçal, onde só é possível sair com a renovação democrática".