"Costa para a rua, a casa não é tua". Empresários temem fim do alojamento local
Algumas centenas de empresários do setor do alojamento local (AL), boa parte vindos Porto, manifestaram-se esta quarta-feira, em Lisboa. Não poupando nas críticas ao primeiro-ministro, afirmaram que a suspensão da emissão de novas licenças faz desta uma atividade "a prazo", denunciaram o clima de "incerteza" e garantiram que, caso o Governo não recue, muitos pequenos investidores ficarão endividados. Os líderes do Chega e da IL juntaram-se ao protesto.
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"Costa para a rua, a casa não é tua". Foi esta a palavra de ordem mais entoada pelos manifestantes que se concentraram junto à Feira Internacional de Lisboa, onde decorre a Bolsa de Turismo da capital.
A maioria quis deixar claro que tem negócios de pequena dimensão - não mais do que três apartamentos; muitos dão como certo que a reavaliação das licenças de AL, em 2030, os atirará para o desemprego e todos acusam o Governo de estar a "matar" o setor.
Essa foi, também, a mensagem do líder do Chega, André Ventura, que marcou presença no protesto. "Se estas medidas forem aprovadas - e em princípio serão -, vão matar o alojamento local", afirmou André Ventura aos jornalistas.
Embora reconhecendo que "há um problema de habitação em Portugal", Ventura defendeu que a solução não pode passar por prejudicar um setor que ajudou a "desenvolver o turismo". Nesse sentido, lembrou que muitos destes empresários aplicaram "as suas pequenas poupanças a reabilitar edifícios que estavam completamente destruídos".
Rui Rocha, presidente da IL, acusou o Governo de estar a promover um "socialismo selvagem", que consiste em dizer a quem investiu o seu dinheiro que o melhor é "estar quieto". Essa, considerou, é uma "mensagem terrível" para o país.
"António Costa está no Governo há mais de sete anos", lembrou Rui Rocha, sustentando que o primeiro-ministro nunca contribuiu "em nada" para resolver a questão da habitação. E agora, "desesperado, segue em frente e atropela toda a gente, nomeadamente o AL", considerou.
Risco de endividamento
No protesto, eram muitos os cartazes a mostrar desagrado para com o Governo. "A minha casa é investimento privado, não é do Estado", lia-se num. Outro dizia: "Não queremos ser os próximos subsidiados". Um terceiro cartaz, com uma imagem de Costa de dedo em riste e vestido como o norte-americano 'Tio Sam', tinha a inscrição "Queremos a tua casa!".
Cerca de cem manifestantes vieram do Porto. Uma delas foi Paula Monteiro, proprietária de dois AL, que antevê dificuldades para os empresários do setor: "Houve pessoas que acabaram de investir. Muitas vezes o retorno demora 17 ou 18 anos, e não temos qualquer garantia de continuidade", refere.
Miguel Guedes, que tem seis AL - cinco na Invicta -, também se insurge contra a "incerteza" no setor: "Somos o único negócio no país ao qual foi imposto um prazo a meio do percurso", lamenta o empresário.
Pedro Barreira, dono de cinco AL em Lisboa, critica o facto de a suspensão de licenças abranger regiões em que não há "qualquer desequilíbrio" entre AL e habitação: "Se eu agora quiser ir explorar para a zona de Peniche, para captar os clientes surfistas, não posso. É uma aberração".