Costa responde a Cavaco: "Perigoso" é a direita-democrática condicionar-se pelo Chega
O primeiro-ministro disse, esta quinta-feira à noite, ter um estilo diferente de governação do ex-presidente da República. Questionado sobre as críticas de Cavaco Silva sobre o perigo da atual situação política, António Costa respondeu: "Perigosa em quê e para quem? Cada um tem a sua forma de estar no poder", mas admitiu que "perigoso" é a direita-democrática condicionar-se pelo Chega.
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"Se a preocupação de Cavaco Silva é ver pessoas da direita democrática ficarem condicionadas pela ação do Chega, também acharia perigoso. Eu acho perigoso", referiu em entrevista à TVI, esta quinta-feira à noite. O primeiro-ministro afirmou que o Governo socialista nunca irá colaborar com o partido de extrema-direita, ao contrário do que fez o PSD com o Chega nos Açores e lembrou que na campanha eleitoral traçou uma linha vermelha com o partido de extrema-direita.
O chefe de Governo assumiu estar preocupado com a possibilidade de a "extrema-direita condicionar a direita democrática", embora tenha admitido estar "convencido" que "o PSD profundo nunca permitirá que o partido se deixe condicionar pelo Chega.
O primeiro-ministro referiu que tem chamado a atenção de que "um dos maiores problemas que existe hoje nas democracias liberais na Europa é a forma como esses movimentos de extrema-direita conseguem condicionar as direitas democráticas", acrescentando que o risco dos partidos de extrema-direita não é de se "tornarem maioritários", nem de "ganharem eleições", mas precisamente o de "condicionarem" os restantes partidos.
Neste ponto, Costa aludiu a declarações recentes do líder do PSD, Luís Montenegro, e do presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Carlos Moedas - sem nunca os mencionar -, mostrando-se "um pouco preocupado" ao ver "alguns líderes partidários do PSD a fazerem certos comentários sobre imigração".
"Fico um pouco preocupado, para ser sincero, mas acredito, e tenho a profunda convicção de que o PSD profundo, o eleitorado do PSD, nunca consentirá uma deriva do PSD que o leve a absorver ou a deixar-se contaminar pelas ideias do Chega, e que o Chega lá continuará no seu cantinho, devidamente acantonado, como deve estar", sublinhou.
Após a entrevista, em declarações nos bastidores transmitidas na CNN Portugal, Costa reforçou esta mensagem, reiterando a sua surpresa com o facto de "responsáveis do PSD" que participaram na reforma recente da lei da imigração dizerem "agora coisas como se desconhecessem o que é que a lei diz".
"Há problemas de integração"
"O país precisa, obviamente, como todos temos consciência, de imigração. Há hoje um conjunto de funções essenciais na nossa atividade, na nossa sociedade, onde há uma enorme carência de recursos humanos e onde os recursos humanos vêm do exterior e com grande sucesso", destacou.
Costa reconheceu que "há problemas de integração que nem sempre são fáceis de resolver", mas salientou que "há verbas importantes no Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) para todas as autarquias, poderem investir na dotação do país de melhores condições habitacionais".
Recorde-se que nos últimos dias Luís Montenegro fez algumas declarações polémicas sobre a política de imigração, o que até já motivou um reparo público do presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa..
Na quarta-feira, Cavaco Silva comentou a atual situação política do país e considerou que está "muito perigosa", durante uma intervenção num comemorativo do 183.º aniversário da Misericórdia - Obra da Figueira, na Figueira da Foz. "Eu tenho sido muito solicitado para falar sobre a situação política do nosso país. Mas considero que, da minha parte, não é tempo de falar, porque considero que a nossa situação política é, neste momento, muito perigosa e eu não quero atirar achas para a fogueira", disse.
Costa acrescentou ainda estar distanciado da forma de governar de Cavaco Silva, referindo que tem "respeito pela reivindicação e greves". "Um direito legítimo", defendeu.