José Ornelas nega encobrimento de abusos sexuais na Igreja e assegura que só um caso já seria "demasiado".
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O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) negou, esta quarta-feira, em Fátima, que tenha havido algum "encobrimento" de abusos sexuais, numa reação à investigação aberta pelo Ministério Público de que está a ser alvo, a propósito de um alegado encobrimento de suspeitas de abuso sexual de menores, relacionadas com um padre da paróquia de Fafe, e com outro caso em Moçambique, ambos arquivados.
D. José Ornelas garantiu que não recebeu qualquer notificação do Ministério Público, e disse ter tido conhecimento de que os casos estavam a ser investigados através da comunicação social. "Esta é a hora da justiça", afirmou. Nesse sentido, pediu a colaboração de todos os que têm conhecimento destes casos para os denunciarem junto da Comissão Independente, que vai concluir a recolha de depoimentos no final do mês.
Dizendo-se "tranquilo" nesse aspeto e garantindo que foram tomadas "as medidas adequadas", o bispo de Leiria-Fátima notou, no entanto, que a Igreja Católica não se conforma com "o que aconteceu", porque "há gente a sofrer". "A Igreja quer fazer este caminho, porque a sociedade precisa dela no terreno", justificou. "Queremos ver-nos livres da praga que a todos nos envergonha, dar dignidade e voz a todos os que sofrem, e esforçarmo-nos para que isto não volte a acontecer."
Instado a comentar as palavras de Marcelo Rebelo de Sousa, que na terça-feira disse que as mais de 400 denúncias já feitas à Comissão Independente não lhe parecem um número "particularmente elevado" - uma declaração que valeu críticas vindas de todos os quadrantes políticos -, o presidente da CEP disse apenas que "qualquer número é demasiado" e que "esta é a hora da Justiça". "Para nós, Igreja, cada caso que acontece é uma derrota."
Questionado sobre se os casos de abusos que têm sido recolhidos abalam a credibilidade da Igreja, D. José Ornelas salientou a atuação perante as falhas. "Não vim para a Igreja por ser perfeita. Porque não é. Nunca será perfeita neste mundo", asseverou, recusando resignar-se a essa realidade. "É preciso transformar. Ser credível é agir credivelmente. E é isto que estamos a fazer", acrescentou.
O bispo de Leiria-Fátima revelou ainda que as dioceses já estão a dar apoio a algumas vítimas, através de psicólogos e psiquiatras. "Não é uma questão para fazer barulho", observou. "Os números são importantes, mas a questão é saber para que é que este estudo vai servir, para criar um ambiente seguro na Igreja", para que "as crianças não sejam postas de lado e tenham o acompanhamento que merecem". "As atrocidades cometidas são deploráveis, não têm explicação, nem desculpa."