O primeiro-ministro, António Costa, expressou esta quarta-feira "a maior solidariedade" com Marcelo Rebelo de Sousa, sublinhando que é lamentável a interpretação que está a ser feita das palavras do presidente da República sobre o número de casos de abusos sexuais na Igreja.
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Em declarações aos jornalistas à margem de uma conferência onde irá participar em Viseu, Costa defendeu que, conhecendo Marcelo Rebelo de Sousa, sabe que, para o chefe de Estado, "só um caso de abuso sexual já seria algo absolutamente intolerável".
"Não tenho a menor dúvida do que pensa o senhor presidente da República", garantiu, frisando que Marcelo não deve qualquer pedido de desculpa. Aliás, acrescentou, "quem fez essa interpretação é que lhe deve um pedido de desculpas".
"Num caso destes, com uma sensibilidade destas, com uma gravidade destas, não podia deixar de expressar a minha solidariedade", referiu. "Todos nós, na vida política, às vezes, não usamos a melhor expressão e, muitas vezes, não somos interpretados da melhor maneira", sublinhou.
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De recordar que, ontem, Marcelo afirmou não ter ficado surpreendido com as 424 queixas validadas pela Comissão Independente para o Estudo dos Abusos de Menores na Igreja (CIEAMI). "Haver 400 casos não me parece particularmente elevado porque noutros países com horizontes [temporais de investigação] mais pequenos houve milhares de casos", referiu o presidente da República, frisando que estamos perante um "universo de milhões" que contactaram com a instituição ao longo de sete, oito ou nove décadas.
Mais tarde e depois do coro de críticas da Esquerda à Direita, o chefe de Estado clarificou as declarações, realçando que, "infelizmente", a realidade deve ser superior e que espera que os casos "possam ser rapidamente traduzidos em Justiça".
Quanto ao facto de Marcelo Rebelo de Sousa ter pedido ao Parlamento uma alteração à lei das incompatibilidades dos titulares de cargos políticos e públicos, o primeiro-ministro não quis fazer comentários, lembrando que "o Governo não se intromete no diálogo entre o Presidente da República e a Assembleia da República. É um direito que está previsto na Constituição, é um poder do Presidente da República dirigir mensagens à Assembleia da República e à Assembleia da República apreciar. As mensagens têm sido várias ao longo dos anos", disse. Mas deixou claro que considera que não existe nenhum caso de incompatibilidades no Governo.
"Não são casos nenhuns, nem suscitam dúvidas nenhumas porque a lei é absolutamente clara. Sobre dois deles, pelo menos, já houve pareceres do Conselho Consultivo da Procuradoria Geral da República e, portanto, da minha parte não tenho dúvidas nenhumas sobre a probidade da forma como os membros do meu Governo têm exercido as suas funções", vincou António Costa.
Questionado sobre as previsões pessimistas do FMI, António Costa desvalorizou-as e até ironizou. "É uma velha tradição. Este é o oitavo orçamento que apresento e não me lembro de um único onde as previsões, designadamente do FMI, não divirjam das previsões que apresentamos. Ao longo destes oito anos, eu não quero garantir, mas devo dizer que estamos para já sete a zero, vamos ver este ano".
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