Após a saída de cerca de 100 militantes em abril, 25 membros da Iniciativa Liberal (IL), incluindo dois conselheiros nacionais, estão de saída do partido, descontentes com a liderança de Rui Rocha. Acusam-no de ter transformado a IL "num partido sem rasgo e ambição", "uma caricatura" daquilo a que ambicionavam ser.
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São 25 os membros da IL que decidiram bater com a porta por o partido se ter "tornado uma caricatura" daquilo que propôs ser nas eleições legislativas e europeias, em 2019, nas quais obteve, pela primeira vez, representação parlamentar, como avançou esta quarta-feira o "Diário de Notícias".
No documento "Não foi isto que nos prometeram", a que o JN entretanto teve acesso, os signatários defendem que a IL passou a ser "paulatinamente um partido do regime, sem rasgo e ambição", seguindo um caminho de "apoio a causas identitárias" que acusam ser "fruto da cedência a minorias ruidosas", em linha com "as agendas da extrema-esquerda e esquerda radical".
Os signatários consideram, por isso, que o partido se transformou "em tudo aquilo de que padecem os partidos tradicionais", denunciando "ausência de democracia nos seus órgãos, na domesticação e apatia de muitos núcleos territoriais", "ausência de meritocracia" na indicação e nomeação de cargos dirigentes, assessores e candidatos às listas eleitorais.
Apontam ainda o "favorecimento de candidatos à liderança" desde logo através da máquina do partido, à existência de relações familiares e de amizade entre dirigentes do partido e assalariados da IL, "em claro clima de nepotismo, a um clima caciquismo agressivo e de perseguição e ofensas a quem pensa diferente dentro do partido e não segue a cartilha que é defendida pela Comissão Executiva, em claro ataque à liberdade de expressão e manifestação interna".
Ao JN, fonte do grupo de signatários que estão de saída corroborou a ideia expressa no documento de que "o partido tem vindo a degradar-se naquilo que defende publicamente", apontando o facto de "exigir ao Governo princípios como os de meritocracia na indicação e nomeação de cargos dirigentes que acabam por não cumprir internamente".
Crê ainda que muitos dos votos nulos que o grupo parlamentar ditou durante esta sessão legislativa e a não felicitação pública ao novo presidente da Argentina, que se assume liberal, são apenas alguns dos sinais de um rumo de uma IL que desrespeita o seu eleitorado. "Não queremos um outro PS", aponta a mesma fonte.
Segundo os signatários, a desfiliação deverá concretizar-se no próximo sábado, 25 de Novembro, "dia em que a Democracia Liberal venceu a Ditadura Totalitária de Esquerda em Portugal", dizem para justificar a escolha da data. Todavia, a mesma fonte revelou que vários dos signatários já deixaram o partido nos últimos dias e o futuro político dependerá de cada um, embora alguns tenham decidido manter-se, nos próximos tempos, independentes.
"É com profunda desilusão que os membros da IL, aqui signatários, deixaram de acreditar neste partido político, lamentando que um projeto que podia, de facto, mudar Portugal, se tenha tornado numa caricatura daquilo que em 2019 se propôs", pode ler-se no documento.
Questionados sobre se irão comunicar a decisão a Rui Rocha, a mesma fonte disse que entendem não fazer "o mínimo sentido", uma vez que a atual comissão executiva "não abriu espaço ao diálogo".
Saídas em abril passado
Esta vaga de desfiliações surge alguns meses depois da saída de outros 14 militantes da "ala direita liberal", a 25 de abril, entre os quais os conselheiros nacionais Nuno Simões de Melo e Mariana Nina Silvestre. Inclusive, os núcleos territoriais da Maia (terceira estrutura local com mais peso no partido, depois da de Lisboa e do Porto) e de Famalicão perderam os seus coordenadores. Ao que o JN apurou, junto de uma fonte do primeiro grupo de membros da IL que deixaram o partido, o documento de abril levou à desfiliação de cerca de 100 antigos militantes.
Recorde-se que, na altura, os antigos elementos justificavam a saída com a perda dos valores e da identidade liberal do partido, bem como algumas decisões do grupo parlamentar que frisaram colocar o rumo do partido à esquerda, apontando como gota de água a votação a favor e a abstenção dos deputados liberais em projetos de lei do PS e do Bloco de Esquerda, respetivamente, sobre a autodeterminação da identidade de género dos alunos nas escolas primários e no pré-escolar.