Mesa Nacional do Bloco de Esquerda reúne no sábado para refletir sobre a esmagadora derrota do partido, a pior dos últimos 20 anos. Vozes críticas exigem a "responsabilização desta linha política" e uma "mudança de rumo".
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Depois de uma noite eleitoral muito dura e difícil de digerir, a Mesa Nacional do Bloco de Esquerda vai reunir no sábado para refletir sobre a derrota esmagadora do partido, que viu desaparecer deputados em quase todos os distritos do país. Dos 19 eleitos em 2019, apenas cinco resistiram: Catarina Martins e José Soeiro no Porto, Mariana Mortágua e Pedro Filipe Soares em Lisboa e Joana Mortágua em Setúbal.
Perante um resultado que deixa a bancada bloquista mais fragilizada, alguns críticos da atual direção exigem "uma clara mudança de rumo", que terá que ser decicida após um "debate muito aprofundado" dentro do partido. Pedro Soares, ex-deputado eleito por Braga, considera que a "bipolarização" destas eleições não pode ser, só por si, uma justificação para a "derrota vincada", e afirma que o resultado das legislativas é "um corolário de derrotas eleitorais" do partido. "É uma linha política que foi aprovada pela maioria da atual direção e que tem ser responsabilizada, estamos obrigados a isso", sublinha ao JN Pedro Soares.
O antigo deputado, que foi eleito pela última vez em 2015, considera que o partido não pode "fechar-se numa bolha entre debates e negociações" e tem que estar mais próximo dos territórios. "As dificuldades e ansiedades das pessoas não podem ser escamoteadas por qualquer negociação parlamentar".
Pedro Soares reconhece que a bipolarização e o chumbo do Orçamento do Estado podem ajudar a explicar parte do resultado, mas recorda que, no último ano em que foi eleito, quando se deu a Geringonça, "houve uma bipolarização muito forte e, apesar disso, o Bloco de Esquerda resistiu e ganhou força", obtendo a maior votação de sempre, com 550 892 eleitores. Soares considera que, apesar das pontes serem necessárias, o BE chamou demasiadas vezes António Costa à campanha. "As grandes propostas do Bloco ficaram escondidas dentro da gaveta dos acordos com o PS".
Por outro lado, José Soeiro, deputado eleito pelo Porto, insiste que o Bloco foi "vítima da pressão e da chantagem que o Partido Socialista fez" e que a derrota não é individual. Ao JN, o sociólogo reconhece que "a reflexão crítica" é necessária e que "a direção estará cá para fazer os balanços e acolher" todos aqueles que queiram ajudar a reerguer o partido. "O Bloco fez uma Convenção há seis meses e elegeu uma direção que respondeu pelo seu mandato".
Na noite eleitoral, quando questionada sobre a liderança, Catarina Martins garantiu que "assumirá todas as responsabilidades", mas ressalvou que o partido " nunca decidiu a sua direção na sequência de resultados eleitorais".