Desconfinamento gradual para evitar marcha atrás. Fulcral não voltar a fechar escolas
Peritos apresentam, nesta segunda-feira, uma análise de risco no Infarmed. Linha vermelha nos 240 casos por 100 mil habitantes. Prioridade será não voltar a parar ensino neste ano letivo.
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O primeiro-ministro pediu um consenso científico. O presidente da República uma matriz de risco. Objetivo? Desconfinar, controlando a pandemia. Hoje, é o dia. Com os peritos alinhados numa análise de risco constituída por vários critérios. Com linhas vermelhas definidas. Nacionais e regionais. Um guia para o Governo decidir quando e como vai abrir a sociedade. Com uma prioridade máxima: abrindo, não voltar a fechar as escolas neste ano letivo.
Ao Infarmed regressam hoje os especialistas que há meses o Governo vem ouvindo para gerir uma crise sanitária sem precedentes. Apesar de métricas diferentes, alinharam-se quanto aos principais parâmetros a ter em conta para um futuro desconfinamento.
Serão, pelo menos, três. A começar pela incidência, com a linha vermelha a dever fixar-se, apurou o JN, nos 240 casos a 14 dias por 100 mil habitantes. Apesar da média a sete dias permitir uma resposta mais rápida - a equipa de Carmo Gomes, da Faculdade de Ciências de Lisboa, por exemplo, trabalha nesta base -, o facto de a média a 14 dias estar já consciencializada pelos portugueses e em linha com o Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças terá sido determinante.
Atualmente, Portugal está na casa das 130 novas infeções a 14 dias por 100 mil, depois de ter atingido um máximo de 1649,4 na última semana de janeiro. Uma incidência de 240/100 mil habitantes corresponde a cerca de 1700 a 1800 novos casos diários.
Fator R e camas em Cuidados Intensivos
A par da incidência anda o denominado R, que nos diz quantas pessoas um positivo pode infetar. E aqui é desenhada uma outra linha vermelha, que poderá oscilar entre o 1 e o 1,2. Sendo que quanto mais alto, maior o risco de os casos subirem. Para se ter a noção, um R nos 1,2 equivale a duplicarmos casos a cada dez dias. Com a agravante da variante inglesa, que pode aumentar em até 70% a transmissão do SARS-CoV-2.
O terceiro indicador a ter em conta será a ocupação de camas hospitalares, nomeadamente em Cuidados Intensivos. As linhas há muito foram definidas pelos intensivistas: 242 camas para doentes covid. Neste momento, dos três indicadores apenas o das camas em Intensivos está no vermelho (354), apesar de o R ter começado já, paulatinamente, a subir (no final de fevereiro estava nos 0,73). Contudo, os especialistas avisaram que não é preciso todos os indicadores estarem no verde.
Análise esta de risco que deverá ser apresentada numa ótica nacional e regional, permitindo desconfinamentos mediante a realidade territorial. Decisão essa que caberá ao Governo, e que foi já tomada no passado, até ao nível concelhio. Hoje, o dia é de apresentar um guia para a decisão política.
Ganhando força o consenso, entre a comunidade médica e científica, de abrir as escolas, a partir da próxima semana, pelo menos até ao pré-escolar (idades com a mais baixa incidência). O que permitiria, volvidos 15 dias e aproveitando as férias escolares da Páscoa, avaliar o impacto desse desconfinamento e decidir os passos seguintes. A lógica deverá ser mesmo essa: abrir por fases, medir impactos, olhar mapas de risco e decidir a próxima etapa. Mediante o risco de mobilidade e de concentração de pessoas. Testando, rastreando e vacinando.
À lupa
Incidência crianças
A 3 de março, a faixa etária dos 0 aos 17 anos era a que apresentava a incidência por 100 mil habitantes mais baixa. Com destaque nos 6-12 aos, com 106 casos por 100 mil, de acordo com os cálculos do matemático Carlos Antunes. A mais elevada estava nos 18-24, com 180/100 mil.
Reino Unido
É um plano de desconfinamento longo, com a quarta e última fase apontada para não antes de 21 de junho. No Reino Unido, as escolas abrem hoje, com os alunos do Secundário e Superior a serem testados duas vezes por semana.