A "população desequilibrada" de alguns microrganismos poderá estar associada ao desenvolvimento do cancro da próstata. Esta é a conclusão de um novo estudo, elaborado por uma equipa de investigadores da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto e que foi publicado na revista científica "Cancers", em fevereiro. A descoberta terá impacto no diagnóstico e no tratamento do cancro mais diagnosticado em homens, a partir dos 50 anos.
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"Ninguém se atreve a dizer que estes microrganismos [sobretudo bactérias] são responsáveis pelo cancro da próstata. Mas, a população desequilibrada é a indicação de que algo não está bem", afirma Acácio Gonçalves Rodrigues ao JN. O estudo está inserido no projeto "Saúde Sexual e Cancro da Próstata: Determinantes Psicobiológicos da Saúde Sexual em Homens com Cancro da Próstata", que estará terminado em agosto.
O grupo de sete investigadores comparou a presença de bactérias na urina, glande e próstata de homens com e sem cancro da próstata (foram 30 no total). Naqueles que têm a doença, foi possível comprovar uma "desregulação" de microrganismos. "Quem tiver aquele desequilíbrio tem de ser seguido e monitorizado de forma mais apertada".
Alterar orientações
O projeto, financiado pelo Norte2020, antevê que o diagnóstico do cancro da próstata possa ser feito através uma "ferramenta molecular, que permite detetar, em simultâneo, uma série de organismos muito extensa, onde se incluem os agentes tradicionais de infeções sexualmente transmissíveis", esclarece Acácio Gonçalves Rodrigues. O pedido de patente daquele instrumento já foi submetido.
A possível ligação entre o desequilíbrio de bactérias, que promove uma inflamação crónica da próstata, e o aparecimento do cancro pode ter, ainda, impacto no tratamento da doença. O professor universitário não descarta o papel que os urologistas terão no processo.
"Será difícil ser o mais seletivo possível no tratamento e eliminar certos agentes. Mas o estudo lança importantes pistas sobre o que pode ser a alteração das orientações para seguir os doentes nos hospitais".