Foi pelas mãos de Catarina Martins que o Bloco de Esquerda conquistou uns históricos 19 deputados, condicionou as políticas governativas de um governo socialista, ao forçar a geringonça, e aprovou diplomas como o da eutanásia. Mas também foi durante a liderança de Catarina Martins que Marisa Matias conseguiu o pior e o melhor resultado do partido em presidenciais e que o BE ficou reduzido a cinco deputados.
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Foi com o impulso de Miguel Portas que o Bloco de Esquerda (BE) decidiu ter não apenas um sucessor de Francisco Louçã (que liderou o partido entre 2005 e 2012) mas dois: um homem e uma mulher. Eleito a 8 de maio de 2025, Louçã deixou de ser porta-voz dos bloquistas a 25 de outubro de 2012, depois de ter conseguido a eleição histórica de dois deputados, ele próprio e Luís Fazenda, e a conquista de uma câmara municipal, Salvaterra de Magos.
Menos de mês após a saída de Louçã, os desejos de Miguel Portas eram concretizados, com Catarina Martins e João Semedo a serem escolhidos como porta-vozes do partido, a 11 de novembro de 2012. Iniciava-se o que ficou conhecida pela liderança bicéfala, que levou à saída do partido de Ana Drago em 2014 e uma pesada derrota nas europeias daquele ano, com o BE a passar de três para um eurodeputado: Marisa Matias.
Era o fim da liderança bicéfala. Dois anos depois, João Semedo anunciou a saída. E a 30 de novembro de 2014 Catarina Martins passou a ser a única porta-voz do partido, função que desempenha até aos dias de hoje. "Achei, achámos todos que podia deixar a coordenação e a direção política diária do Bloco. O Bloco está mais unido, o Bloco está pronto para a luta toda. E eu lá estarei. Como sempre", escreveu, na altura, João Semedo no Facebook.
Bastou um ano como coordenadora nacional do BE para Catarina Martins escrever o seu nome nas páginas do partido e na história da política nacional, ao conseguir forçar António Costa a formar a geringonça, numas eleições ganhas pelo antigo primeiro-ministro social-democrata Pedro Passos Coelho. Os portugueses descobriram, na altura, algo nem sempre falado por ser inédito: afinal, não era o partido vencedor que governava, era o que conseguia reunir à sua volta o maior número de deputados.
Esse acordo inédito, em outubro de 2015, deu a António Costa o apoio de BE, PCP e PEV para governar, em detrimento de Passos Coelho, cujo Governo durou apenas 28 dias, tornando-se no mais curto da história.
Um ano depois, o BE conquistava nova vitória, com Marisa Matias a conseguir o maior resultado de sempre nas presidenciais de janeiro de 2016, ao ultrapassar a marca dos 10%, ficando em terceiro lugar nas eleições que elegeram, pela primeira vez, Marcelo Rebelo de Sousa. Cinco anos depois, contudo, a eurodeputada caiu de um terceiro para um quinto lugar, com 3,95%, na corrida que ditou a reeleição do presidente da República.
A liderança de Catarina Martins teve, assim, altos e baixos, conforme a própria reconheceu, esta terça-feira, ao anunciar a intenção de não se recandidatar, ao fim de 10 anos no cargo: vitórias e derrotas, conforme referiu. Foi o caso dos históricos 19 deputados conquistados nas legislativas de 2019 e da vertiginosa queda para os atuais cinco nas eleições de 2022, com o fim da geringonça e um ano depois de Catarina Martins ter sido reeleita coordenadora do BE, numa Convenção Nacional em que perdeu 17 lugares na Mesa Nacional, passando a ficar com 54 em 80 mandatos.
Na hora do anúncio da saída, Catarina Martins destacou a aprovação da eutanásia, em 20 de fevereiro de 2020, como uma das suas vitórias. Mas também poderia falar da recente aprovação do fim dos "vistos gold" ou da aprovação da canábis medicinal e da aprovação de uma comissão de inquérito à TAP.