Deputada anuncia candidatura este mês. Catarina diz que "é seguramente um bom nome".
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Mariana Mortágua é a senhora que se segue na liderança do Bloco de Esquerda. Desfeito o tabu da saída de Catarina Martins, que comunicou ontem que não será recandidata a coordenadora nacional, está assegurada a candidatura da deputada e economista. Será anunciada ainda este mês, até porque as moções de orientação são entregues até dia 27.
"É seguramente um bom nome", comentou Catarina Martins numa entrevista à RTP, no "Jornal da noite", ressalvando que o BE tem outros bons quadros e que terá essa conversa "com os camaradas".
Mariana Mortágua garantiu, há muito, o consenso necessário para avançar, no âmbito da XIII convenção de 27 e 28 de maio, em Lisboa. A candidatura será anunciada "nos próximos dias", disseram ao JN fontes da direção, apontando como mais provável a próxima semana. Mas será "seguramente até ao final do mês".
A menos de 15 dias da entrega das moções, Catarina Martins anunciou, em conferência de imprensa, que não se recandidata. "No Bloco, não há períodos muito longos de funções como a coordenação. O que me fez decidir neste momento foi pensar que é agora que deve começar a preparação da mudança política que já aí está", justificou. Com legislativas em 2026, e após a última grande derrota, o BE quer reforçar a oposição e deixar para trás o tempo da geringonça, que nasceu em 2015 do desafio lançado por Catarina Martins.
Aliás, António Costa desejou-lhe ontem "as maiores felicidades", recordando que viraram "a página da austeridade, num caminho para mais crescimento, melhor emprego e maior igualdade". O contexto de maioria absoluta do PS ficou já marcado pela saída de outro pai da geringonça, com Paulo Raimundo a substituir Jerónimo de Sousa como líder do PCP.
"Esta renovação que desejo promover vai multiplicar a energia do Bloco", afirmou Catarina Martins. Ao fim de onze anos, "o que mudou agora" prende-se com "a instabilidade da maioria absoluta". E a crise "multiplicada dentro do Governo e em choque com a luta popular é um sinal do fim de um ciclo político", referiu.
Boaventura apoia escolha
Além disso, a líder manifestou "absoluta tranquilidade" por haver gente "com capacidade, força e preparação" para a substituir, apelando a "soluções de unidade" na convenção.
Já Marcelo Rebelo de Sousa quis deixar "um cumprimento" a Catarina, notando que "faz parte da vida da democracia os partidos mudarem". "Foram sete anos em que pude dialogar com ela", recordou.
No BE, o líder parlamentar, Pedro Filipe Soares, afastou a hipótese de ser candidato, garantindo a "maturidade inequívoca" do partido, que "não ficará órfão de qualquer liderança". A deputada Joana Mortágua, irmã da próxima líder, disse que Catarina sai por acreditar ser "o melhor para o BE". Já a eurodeputada Marisa Matias elogiou a "líder forte, carismática, corajosa e generosa".
Moções adversárias
O sociólogo e independente Boaventura Sousa Santos, que há precisamente um ano defendeu Mariana Mortágua para coordenar os bloquistas, disse ontem ao JN ver na deputada "uma excelente líder do BE para uma nova fase, de relançamento do partido".
Sublinhando que "os líderes não se podem eternizar", disse que o BE "precisa de uma renovação, de pessoas e políticas". Em fevereiro de 2022, defendeu a demissão da líder por crer que falhou no Orçamento e na campanha. Considera Mariana Mortágua "uma líder com grande visão política e saber técnico em áreas fundamentais, como a financeira". A economista é o rosto do BE nas comissões de inquérito à banca.
Na convenção, Mariana Mortágua terá adversário da corrente minoritária. Segundo o ex-deputado Carlos Matias, da Convergência, esta plataforma prepara uma moção alternativa e uma proposta de direção. Já a atual direção, no texto que serve de base à moção, refere, segundo a Lusa, que a "viabilidade da legislatura" está em causa e que o "bloco partidário" de Costa "entra em desagregação", prometendo que o BE será "a mais forte oposição".
MP quer fundador do Chega absolvido
O Ministério Público pediu ontem a absolvição de Nuno Afonso, fundador e ex-militante do Chega, por ter, alegadamente, ofendido o BE ao acusar o partido, no Facebook, de "instrumentalizar populações e etnias" e "apoiar a violência", em 2021. A procuradora sustentou que as declarações foram "grosseiras", mas "não admitem a censura penal". Para Maria João Abranches, não há "grande diferença" entre "o estilo de discurso" do arguido e o do BE. "É mais ou menos farinha que está toda no mesmo saco", disse. A sentença é lida a 1 de março, em Lisboa.
Vitórias e derrotas
11 de novembro de 2012 - liderança bicéfala
Menos de um mês após a saída de Louçã, os desejos de Miguel Portas eram concretizados, com Catarina Martins e João Semedo a serem escolhidos como porta-vozes. Iniciava-se o que ficou conhecido por liderança bicéfala.
25 de maio de 2014 - europeias
O BE sofre uma pesada derrota nas europeias, caindo para a quinta força política, com 4,56%. Passou de três para um eurodeputado: Marisa Matias.
30 de novembro de 2014 - saída de joão semedo
João Semedo anunciou a saída. E Catarina Martins passou a ser a única porta-voz do partido.
5 de outubro de 2015 - geringonça
O BE conquista o maior número de deputados de sempre: 19. E Catarina Martins desafiou António Costa a tentar governar, apesar de a vitória ter sido de Passos Coelho. Nascia a geringonça.
26 de janeiro de 2016 - presidenciais
Marisa Matias conseguiu o maior resultado de sempre em presidenciais, ao superar os 10% e ficando em terceiro lugar. Cinco anos depois, eurodeputada caiu para o quinto lugar: 3,95%.
6 de outubro de 2019 - FIM DA GERINGONÇA
PS dita o fim da geringonça ao preferir negociar caso a caso.
20 de fevereiro de 2020 - eutanásia
Os cinco projetos de lei que despenalizam a eutanásia (BE, PAN, PS, PEV e IL) foram aprovados na generalidade.
25 de maio de 2021 - última reeleição
Catarina Martins foi reeleita coordenadora do BE, numa Convenção Nacional em que perdeu 17 lugares na Mesa Nacional. Ficou com 54 de 80 mandatos.
30 de janeiro de 2022 - LEGISLATIVAS
Deu-se um terramoto no Bloco, com o partido a passar de 19 para cinco deputados.
3 de fevereiro de 2023 - 1inquérito à TAP
A proposta do BE para uma comissão de inquérito à tutela política da TAP foi aprovada, com a abstenção do PS e PCP.
10 de fevereiro de 2023 - vistos gold
O Governo aprovou em Conselho de Ministros o que Costa prometera em novembro, o fim dos vistos gold, uma das principais batalhas do BE.