Só areais urbanos do Grande Porto têm hoje nadador-salvador no arranque da época balnear. Situação manter-se-á até julho.
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A época balnear arranca hoje no norte do país e não há nadadores-salvadores para todas as praias. Há dezenas de areais sem vigilância e, no Grande Porto, a generalidade das praias não urbanas ficará assim até, pelo menos, ao início de julho. Em vez de um nadador-salvador, os banhistas encontrarão uma placa a desaconselhar banhos. Também no Algarve, entre Albufeira, Faro e Loulé, contam-se 22 concessões que não conseguiram contratar nadadores-salvadores. A Federação Portuguesa de Nadadores Salvadores (Fepons) considera a situação "alarmante" e garante que nunca houve tamanha falta de profissionais.
A norte, entre Porto, Matosinhos, Póvoa de Varzim e Vila do Conde, apenas as praias urbanas terão assistência a banhistas, denuncia Carlos Ferreira, da maior associação de nadadores salvadores do Norte, Delfins. "As praias a norte de Leça até ao limite de Matosinhos, cerca de 16 areais, e quase todas a sul do Rio Ave vão estar sem nadadores-salvadores até ao início de julho, quando começará a existir maior disponibilidade" de profissionais para contratar, relata ainda. Grande parte dos nadadores-salvadores estuda e só termina o ano letivo no final deste mês.
Alerta da Polícia Marítima
Santos Amaral, comandante regional da Polícia Marítima do Norte, confirma a falta de nadadores-salvadores em várias praias e aconselha a população a não procurar esses areais. "Os banhistas devem evitar as praias que estão sem vigilância, onde será colocada uma sinalética a indicar a falta de nadadores-salvadores". Ainda assim, essas zonas balneares serão patrulhadas por nadadores-salvadores de associações, de municípios e da Marinha em viaturas Amarok e apeados.
Também a Câmara de Vila do Conde confirma a dificuldade em contratar no arranque da época balnear. "Sentimos os mesmos problemas que os concelhos vizinhos e estamos a trabalhar para garantir a assistência a banhistas em todas as praias", reconhece, esperando que, "em julho, a situação esteja normalizada".
A sul, o presidente da Associação de Municípios do Algarve (AMAL), António Pina, acredita que, "até julho, haverá nadadores-salvadores nas praias. Se é uma questão financeira, devem ser os concessionários a aumentar os salários, porque é um dever da concessão garantir a assistência a banhistas".
O autarca recusa incentivos, como alojamento para atrair aqueles que residem noutros pontos do país. "Essas ajudas são para médicos e enfermeiros que precisamos nos hospitais", afirma. O JN contactou, ainda, as câmaras onde há falta de assistência aos banhistas, contudo não obteve resposta.
Incentivos na gaveta
O presidente da Fepons explica as razões para esta falta de vigilantes, que se agrava ano após ano. "Não há nadadores salvadores, porque não há quem queira trabalhar sete dias por semana a ganhar 1200 euros brutos, o que se traduz em menos do que o salário mínimo", argumenta Alexandre Tadeia, para quem a solução passa pela publicação de incentivos à profissão, que estão na "gaveta" há vários anos. E pede a ação urgente do Governo na publicação de incentivos.
"O mais importante é a redução do pagamento da taxa de 25% de IRS no recibo do nadador-salvador para obter mais rendimento e não colocar em risco a atribuição de bolsa escolar". Em cima da mesa, está ainda a isenção total da propina escolar, em caso de bom aproveitamento no ano transato, o estatuto de trabalhador estudante e o acesso a nova época de exames em setembro. O Ministério da Defesa Nacional não responde ao JN.
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Formações sem procura
A fraca atratividade da profissão leva a Fepons a registar pouca adesão aos cursos. "Os jovens querem aproveitar o verão e não querem trabalhar sem folgas". No norte do país, Carlos Ferreira diz que a situação é a mesma nos cursos lecionados pela Associação Delfins. "Há cinco anos, organizávamos duas formações em simultâneo. Este ano, tive que adiar uma por não haver candidatos suficientes", lamenta.
Marinha mantém títulos
A Marinha decidiu manter válidos os títulos com três anos, que caducariam este ano. A medida surgiu em 2020, quando as piscinas estavam fechadas para a realização dos cursos e de certificações de novos nadadores-salvadores.
Concessões encerraram
As concessões obrigadas a fechar no início do mês estão nos concelhos de Faro, Albufeira e Loulé. A praia grande Armação de Pêra, Dona Filipa, Salgados ou Altura são algumas das que tiveram que encerrar a exploração no areal.
Brasileiros reforçam areais entre Lisboa e a costa algarvia
A falta de nadadores-salvadores nas praias entre a região de Lisboa e o Algarve tem sido colmatada com a presença de salva-vidas brasileiros com formação militar e que fazem da vigilância aos banhistas a sua profissão ao longo do ano, entre Brasil e Portugal.
Desde 2019, dezenas de nadadores-salvadores da Associação Brasileira de Salva-Vidas Civis de Rio Grande do Sul (Abrasvic) têm vindo trabalhar para a costa entre Lisboa e o Algarve. O Instituto de Socorros a Náufragos certifica os profissionais com o título português. Esses salva-vidas brasileiros recebem alguns incentivos, como alojamento através de contactos com associações homólogas nacionais.