A Direção-Geral da Saúde (DGS) vai publicar uma norma sobre a intervenção psicológica em crise, onde se incluem situações como acidentes rodoviários. A orientação será dirigida a clínicos de estabelecimentos de saúde, para que possam proteger a saúde mental e o bem-estar psicossocial das vítimas de sinistros.
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"Apenas uma pequena percentagem recebe apoio psicossocial" em contexto de crise, afirmou Pedro Ribeiro, da Direção-Geral da Saúde (DGS), esta quinta-feira, num webinar promovido pela associação Estrada Viva. De acordo com o especialista, o objetivo da nova orientação, que ainda não foi publicada, será encetar esforços para fazer "uma intervenção [psicológica] numa fase inicial", isto é, logo após um acidente rodoviário ou a outra situação de trauma.
A norma dirigida a profissionais de saúde, muitos sem especialização na área da Psicologia, terá de promover "práticas sustentadas" durante a "vivência de situações traumáticas". As recomendações às vítimas terão de ter em conta os diferentes contextos, como o tipo de acidente, a personalidade dos utentes, se têm uma patologia psicológica prévia ou consoante a capacidade de adaptação a várias situações. "Quanto mais precoce for a intervenção, melhor", apontou Pedro Ribeiro.
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Ainda não é claro como serão aplicadas as recomendações, já que a questão dos recursos humanos é uma decisão posterior à publicação da norma. "Não pode ser feita [intervenção] no âmbito de uma consulta. Tem de ser feito de imediato, com a deslocação de equipas móveis até à vítima", exemplificou.
O INEM tem Unidades Móveis de Intervenção Psicológica de Emergência (UMIPE), que se deslocam ao local das ocorrências após o acionamento do Centro de Orientação de Doentes Urgentes (CODU). No entanto, a norma da DGS será aplicada nos estabelecimentos de saúde, como os hospitais.
No mesmo webinar dedicado à justiça e à sinistralidade rodoviária, Filomena Araújo, presidente da associação Gare, apontou as falhas existentes em Portugal no apoio às vítimas de acidentes rodoviários. Tendo em conta o número de pessoas que sofrem ferimentos (graves ou leves), diz, os dados da Associação de Apoio à Vítima (APAV) registaram apenas 25 pedidos de apoio de vítimas de crimes rodoviários, em 2019.
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As estatísticas mostram, na opinião de Filomena Araújo, que as vítimas não sabem onde procurar ajuda. Os números da APAV incluem casos de "ofensas à integridade física em acidente rodoviário e condução sob o efeito de álcool ou droga".
O último relatório da Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária (ANSR) revela que, entre janeiro e julho deste ano, 253 pessoas morreram nas estradas portuguesas. O valor representa um aumento de 33,2% relativamente ao mesmo período de 2021 e uma diminuição de 14,5% face a 2019.