Após 20 anos de diminuição significativa, mortalidade estabilizou na última década com uma média de 66 por ano. Relatório da APSI alerta que programa de prevenção terminou em 2020.
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Em média por ano, durante a última década, morreram 66 crianças e jovens até aos 19 anos, 3393 foram internadas e 22 700 foram socorridas pelo INEM na sequência de um acidente. A maioria (59,7%) são acidentes rodoviários, mas os afogamentos (11,7%) e as situações de asfixia (8,3%) também estão entre as principais causas de morte, revela um relatório divulgado, esta quinta-feira, pela Associação para a Promoção de Segurança Infantil (APSI), no âmbito do seu 30.º aniversário.
Tanto a taxa de mortalidade por acidente como o número de internamentos diminuíram mais de seis vezes desde 1992. No entanto, essa redução foi muito mais acentuada nas primeiras duas décadas, tendo quase estabilizado desde então. Em 2019, a taxa de mortalidade por acidente era de 3,8% por 100 mil habitantes - menos 20 pontos percentuais do que em 1992 mas ainda assim quase o dobro da União Europeia.
"Ainda temos um problema por resolver e o maior é que a maior parte destas mortes e internamentos é evitável", frisa Sandra Nascimento. A APSI alerta que o Programa Nacional de Prevenção de Acidentes terminou em 2020 e não foi retomado. "É uma lacuna e vamos aproveitar a divulgação do relatório para expor a nossa preocupação, sendo essencial uma estratégia transversal de prevenção que tem de continuar a ser prioritária", frisa a presidente da APSI.
Apesar da evolução, "extremamente positiva, continuamos com um problema grave: os acidentes são a principal causa de morte entre os 15 e 19 anos e a segunda entre os 5 e os 14 anos. Por cada morte, em média, registam-se 27 internamentos e 215 crianças e jovens são assistidas pelo INEM", sublinha.
De acordo com o relatório, os acidentes de transporte (que incluem acidentes com automóveis, motas, bicicletas e atropelamentos) são a principal causa de morte, por acidente, em todas as faixas etárias, à exceção do primeiro ano de vida.
Asfixia e estrangulamento vitimam mais bebés no primeiro ano de vida
A principal causa de morte até aos 4 anos são problemas de saúde com origem na gestação. Ainda assim, cerca de um quinto da mortalidade (21%) é causada por acidentes. Durante o primeiro ano de vida, a primeira causa de morte é a asfixia, sufocação e estrangulamento. Até aos 4 anos, também os atropelamentos. Tal como as crianças mais velhas, as quedas são o principal motivo para internamentos e chamadas de emergência para o INEM entre os mais pequenos. A ingestão de objetos é o segundo motivo para as hospitalizações.
Quedas levam ao hospital
Entre 2017 e 2021, em média, por ano, foram internadas 2270 crianças e jovens e quase 21 mil foram socorridas pelo INEM. Na esmagadora maioria dos casos devido a quedas (70% no caso dos internamentos e 73% nas chamadas para o INEM), especialmente rapazes entre os 5 e os 14 anos. Os acidentes de transporte são o segundo motivo para internamentos (16%) a partir dos 5 anos.
"O objetivo não é isolar as crianças numa redoma. É precisamente o oposto: devem ser criadas condições de segurança para que mais crianças possam brincar na rua e ir a pé ou de bicicleta para a escola. Isso é assegurar-lhes uma vida mais saudável mas que requer medidas preventivas de segurança", insiste.
"Nos últimos 13 anos não houve progresso em termos de medidas adotadas para reduzir o número e a gravidade dos acidentes com crianças e jovens", lê-se no relatório. Além do plano, que terminou em 2020, também não há metas e para a APSI a estabilização do número de mortes na última década decorre deste "desinteresse nacional".
PROPOSTAS
Menos velocidade
A redução da velocidade automóvel em zonas residenciais ou junto de escolas é uma das propostas defendidas pela APSI. Sandra Nascimento acredita que garantiria condições de segurança para uma mobilidade mais saudável, além de reduzir a sinistralidade e poluição.
Piscinas
Nas piscinas de casas privadas, condomínios, alojamento local ou aldeamentos turísticos, a APSI defende a obrigatoriedade de proteção.
Varandas e janelas
A proteção de varandas e janelas em edifícios novos e reabilitados deve também ser obrigatória. Tal como em escolas e edifícios residenciais.
Cadeiras de costas
No automóvel, a APSI defende que mais crianças devem ser transportadas de costas até aos 3 ou 4 anos.
Cordões na roupa
A proibição do uso de cordões e fios em roupa de criança é uma medida preconizada há muito na UE mas ainda não adotada em Portugal, alerta a APSI.