Nove candidatos divergem em medidas para problemas na mobilidade, habitação e uso turístico da capital. Bloco mostra-se o menos crítico de Medina.
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A duas semanas da ida às urnas, o diagnóstico do que vai mal em Lisboa está mais do que feito e é consensual entre os candidatos à presidência. As rendas altas estão a expulsar os lisboetas do centro da cidade, os transportes públicos não são uma alternativa ao tempo infinito no trânsito caótico e o turismo de massas está a mostrar a sua pior face.
Nenhum dos nove candidatos à Câmara, que ontem debateram o estado da capital num encontro promovido pelo JN, negou a necessidade de encontrar respostas para estes problemas. Porém, divergiram nas soluções. E, perante a falta de comparência do socialista Fernando Medina e da social-democrata Teresa Leal Coelho, acabou por ser a centrista Assunção Cristas a assumir o papel de protagonista: teve de se defender das críticas à Esquerda e de repetir propostas, entre elas a de 20 novas estações de metro. Já Ricardo Robles, do BE, e o comunista João Ferreira, apesar da crítica à gestão do PS, não levantaram barreiras a uma hipotética "gerigonça" alfacinha no pós-autárquicas.
As ausências do atual presidente da Câmara, que recusou ser confrontado com os seus dois anos de gestão, e de Leal Coelho, que tentou impor à última hora o segundo elemento da sua lista, acabaram por marcar o tiro de partida, sendo alvo de ataque pelos adversários.
Ausências criticadas
"É de lamentar a ausência dos candidatos do PS e PSD. São os rostos daquilo que foi a governação da Câmara de Lisboa", apontou Joana Amaral Dias, candidata do Nós, Cidadãos! , que considerou que "as ausências têm uma leitura política - não respeitam os debates". Para António Arruda, do PURP, foi uma "mostra de medo".
BE e CDU não fecham porta a PS
Confrontados com a possibilidade de Fernando Medina não alcançar uma maioria absoluta, como a que António Costa obteve para o PS em 2013, quer o candidato do BE quer o da CDU não se demarcaram da possibilidade de repetir coligações passadas, que uniram a Esquerda na Câmara, nos últimos 20 anos - ainda que tenham acabado da pior forma.
Aliás, Inês Sousa Real, candidata do PAN, mostrou preocupação com a formação de eventuais "maiorias que viram costas às populações" e que possam resultar das eleições do próximo dia 1 de outubro.
Segundo o bloquista Ricardo Robles, que acusou o PS de "há 10 anos" consecutivos ter as mesmas propostas sem as concretizar, o "BE corre o risco de ter um bom resultado nestas eleições", o que obrigaria Medina a contas na hora de dividir cadeiras.
Por outro lado, João Ferreira foi mais enigmático: "A CDU foi a grande força de Oposição nesta Câmara e corporizou uma alternativa a esta maioria, que mostrou incapacidade em resolver os problemas da cidade. Queremos disputar todas as responsabilidades".
Tais disponibilidades não deixaram de ser criticadas pela centrista Assunção Cristas, que defendeu ser "a única alternativa ao Governo de Fernando Medina, seja sozinho, seja com a Esquerdas unidas".
Habitação (ou a falta dela) pôs Cristas debaixo de fogo
Cristas e os despejos
Ainda assim, a líder do CDS, que tem em Lisboa a sua prova de fogo em eleições autárquicas, não se livrou de ser acusada de, com a sua lei do arrendamento, quando era ministra no Governo PSD/CDS, estar por detrás dos despejos de que têm sido alvo os moradores no centro da cidade, como consequência do crescimento do negócio do alojamento local.
Contra este filão, que avança pelos principais eixos de Lisboa, mostrou-se claramente Carlos Teixeira, ex-presidente da Câmara de Loures e agora candidato pelo PDR/JPP. Mesmo que não se tenham mostrado contra este tipo de turismo, os rostos do PCTP e PNR criticaram a desregulamentação do setor.
Dada a ausência de Fernando Medina e a impossibilidade de explicar a estratégia da Câmara socialista - ou a falta dela - para travar a saída dos lisboetas do centro da cidade e incentivar a chegada de novas famílias, a candidata do CDS, Assunção Cristas, viu cair sobre si o ónus de ter de explicar os efeitos da legislação do Governo PSD/CDS, que acabou com o congelamento das rendas ao longo de décadas.
A centrista ainda acusou a gestão do PS de, não só vender "500 milhões de euros em património da Câmara", como não ter "uma alternativa" à extinção da EPUL - Empresa Pública Municipal de Urbanização de Lisboa.
Joana Amaral Dias, do Nós, Cidadãos!, deu o mote às críticas que se seguiram, quando alegou que Cristas "destruiu as rendas em Lisboa" e foi "autora de milhares de despejos de idosos e crianças".
João Ferreira, da CDU, defendeu que a capital ficou à mercê da "especulação imobiliária" devido, principalmente, à permissão que foi dada "à fúria" do alojamento local - com o negativo "impacto nalgumas freguesias" - após uma legislação "da responsabilidade de um secretário de Estado [do Turismo] do CDS [Adolfo Mesquita Nunes]".
O bloquista Ricardo Robles, que se comprometeu em, "dois meses", no caso de chegar ao poder, começar a resolver este cenário, revelou que, no centro da cidade, "uma em cada cinco casas já está no alojamento local".