A diocese de Braga admite abrir um novo procedimento canónico ao padre de Joane que, durante décadas, terá abusado de crianças no confessionário e que está, desde julho do ano passado, afastado do exercício do ministério sacerdotal.
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Na sequência da lista de nomes entregues pela Comissão Independente, onde consta o do cónego Fernando Sousa e Silva, de 90 anos, a diocese abre caminho à instauração de um novo procedimento canónico, "se se verificar que os testemunhos recolhidos" pela equipa liderada por Pedro Strecht "configuram novos factos".
Sem referir o nome do sacerdote, o comunicado emitido esta sexta-feira pela arquidiocese refere o caso, salientando que o padre já tinha sido alvo de um processo canónico por abuso sexual de menores, cuja conclusão resultou na "aplicação de medidas disciplinares em vigor".
As queixas relativas ao pároco de Joane, vila do concelho de Famalicão, são antigas e algumas chegaram aos responsáveis da diocese, nas décadas de 1990 e 2000, mas não foram investigadas.
Em 2019, uma das vítimas levou o caso à Comissão de Proteção de Menores e Adultos Vulneráveis da Arquidiocese de Braga (CPMAV), mencionando a existência de outras pessoas sujeitas aos abusos do sacerdote, que terão sido perpetrados nos anos 70 e 80 do século passado.
Em outubro último, na sequência de várias reportagens com relatos de vítimas testemunhando os abusos de que foram alvo por parte do sacerdote, a arquidiocese de Braga emitiu um comunicado, a pedir "perdão" e dar esclarecimentos sobre o caso. Naquela nota, a instituição alegava que, após a primeira queixa que recebeu, a CPMAV "diligenciou no sentido de identificar estas e outras possíveis vítimas, mas sem sucesso". Dois anos mais tarde, chegou à comissão mais uma denúncia, surgindo depois um "elevado número de casos relatados pela comunicação social".
Segundo a diocese, em julho de 2022, foram impostas "medidas disciplinares" ao sacerdote, nomeadamente a proibição de "exercer publicamente o seu ministério sacerdotal e, de modo particular, a celebração de missa e de confissão, devendo recolher-se num clima de oração, reflexão e penitência".
Ordenado em 1956, o padre Manuel Fernando Sousa e Silva foi também professor e juiz do tribunal eclesiástico. Em declarações a vários órgãos de comunicação negou sempre a prática de qualquer tipo de crime.