A Arquidiocese de Braga mandou a Fraternidade Cristo-Jovem, de Requião, Famalicão, cancelar o encontro marcado para hoje com a participação de Vassula Ryden, uma "vidente" egípcia que diz falar diretamente com Cristo e que a Igreja repudia desde 1995.
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A Irmandade foi fundada por três religiosas e um padre que ainda ali vivem e foram condenados recentemente por crimes de escravatura sobre "noviças". Não é certo que vão acatar a ordem.
Vassula Ryden é a atração principal do encontro em que, segundo o JN apurou, são esperadas cerca de três mil pessoas. A jornada, para a qual a Irmandade já terá contratado acompanhamento pela GNR, insere-se numa campanha de angariação de fundos para financiar os gastos que os condenados estão a ter com o recurso da decisão do tribunal.
"Vassula soube da nossa grande tribulação e, por uma amiga dela e nossa de Espanha, conseguiu encontrar-nos. Desejava saber qual era a nossa situação", lê-se numa carta enviada aos leitores da revista editada pela Fraternidade.
Na carta, assinada "IRMÃ Maria Isabel", uma das "freiras" condenadas apela-se ainda à solidariedade dos leitores. "Escrevemos mais de 1500 cartas aos nossos amigos das Edições Boa Nova, porque o advogado teve que recorrer, fica muito dispendioso e nós não temos capacidade para tanto", afirma.
Diocese não sabia
Questionada pelo JN, a Arquidiocese de Braga referiu que "nunca foi informada deste encontro" e que, "logo que teve conhecimento", realizou "as diligências necessárias, junto da "Fraternidade Missionária de Cristo-Jovem, para que este fosse cancelado e não se realizasse de modo algum".
Em comunicado, justifica que "esta decisão tem por fundamento a "notificação sobre os escritos e as obras da senhora Vassula Ryden", da Congregação para a Doutrina da Fé, datada de 6 de outubro de 1995, que "solicita a intervenção dos bispos, a fim de que informem adequadamente os seus fiéis e não seja concedido nenhum espaço no âmbito das próprias dioceses à difusão das suas ideias".
A nota acrescenta ainda que, enquanto a sentença "não transitar em julgado, a Diocese de Braga não "deve" tomar qualquer iniciativa no sentido de extinguir quer a Fraternidade Cristo Jovem quer o Centro Social de Apoio e Orientação da Juventude".
Aviso à Fraternidade
"Na eventualidade de algo de grave se passar, a Diocese, "momentaneamente impedida de extinguir" tenciona alterar o seu cariz de público para privado, porque não pode continuar a responder pelos atos de uma instituição que não esteja em plena comunhão com a Igreja Católica", avisa a autoridade eclesiástica.
Fraternidade em silêncio
O JN contactou a Fraternidade Cristo-Jovem telefonicamente para obter esclarecimentos sobre o caso, mas não obteve qualquer resposta.
"Revelações" privadas"
Vassula, que tem uma vasta obra editada, autoproclama-se recetora de "revelações privadas" diretamente de Cristo.
Penas entre 12 e 17 anos de prisão
Em julho, o Tribunal de Guimarães condenou a penas entre 12 e 17 anos os quatro arguidos, por escravizarem nove noviças durante décadas. Devem ainda pagar 1,2 milhões de euros em indemnizações às vítimas, com as quais a Diocese diz pretender encontrar-se.