O encontro com a "vidente" Vassula Ryder no "convento" de Requião, em Famalicão, fundado por três freiras e um padre condenados por escravatura de "noviças", decorreu este domingo, apesar da ordem em contrário da Arquidiocese de Braga. Depois da eucaristia e da reza do terço a "vidente" deu o seu testemunho.
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Contrariando as ordens da Arquidiocese de Braga e orientações do Vaticano, a Fraternidade Missionária Cristo-Jovem, em Requião, Famalicão, recebeu ontem, Vassula Ryden, uma "vidente" egípcia que diz falar diretamente com Cristo e que a Santa Sé repudia desde 1995. Das três mil pessoas esperadas apareceram algumas centenas vindas de vários pontos do país. Os fiéis, entre eles padres, começaram a chegar ao "convento" de Requião de manhã mas a maioria veio ao início da tarde, altura para qual estavam agendadas as cerimónias e o testemunho da "vidente".
A Fraternidade foi fundada por três "freiras" e um padre recentemente condenados a penas de prisão por escravatura de "noviças" e não é a primeira vez que acolhe Vassula Ryden.
Maria Filomena e três amigas vieram do Algarve de propósito para o encontro, "porque estas senhoras são boas, pedem para os outros e isso vê-se no trabalho que fazem com os reclusos", afirmou. "Foram coisas que inventaram", disse, referindo-se à escravatura. "É injusto". Filomena não é a primeira vez que ouve a "vidente". "Claro que vim de tão longe por causa da Vassula, juntou-se o útil ao agradável", notou.
Segurança e GNR à porta
Os portões da Fraternidade estavam fechados, com segurança na entrada e três militares da GNR contratados que orientavam o trânsito e o estacionamento. Avisos no exterior alertavam para o facto da propriedade de quatro hectares ser "privada" e a entrada "exclusiva a convidados para o evento". O aviso proibia ainda filmagens, fotografias e a entrada a jornalistas.
De resto, quando a equipa do JN chegou, um homem com um cartão ao pescoço onde se lia "Grupo de Oração de Vassula Ryden" tentou proibir as fotografias no espaço público, assim como a presença de jornalistas.
A Fraternidade é uma associação de fiéis de cariz público e, por isso, dependente da Igreja. Contudo, a Diocese, que proibiu o evento, já ameaçou que poderá vir a alterar o cariz para privado, porque "não pode continuar a responder pelos atos de uma instituição que não esteja em plena comunhão com a Igreja Católica".
A Diocese não quis comentar a desobediência da instituição e também não foi possível falar com a responsável da Fraternidade, apesar dos pedidos do JN.