Tristeza, ansiedade, exaustão e preocupação com a perda de rendimentos são comuns também nos cuidadores.
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Em 2019, registaram-se em Portugal 1274 queixas por discriminação com base na deficiência, o que representa um aumento de 40% face ao ano anterior. A conclusão consta no relatório "Pessoas com Deficiência em Portugal - Indicadores de Direitos Humanos em 2020", do Observatório da Deficiência e dos Direitos Humanos (ODDH) do Instituto de Ciências Sociais e Políticas (ISCSP) da Universidade de Lisboa, que será apresentado hoje.
A maioria das queixas está relacionada com a falta de acessos a locais públicos ou abertos ao público, e com condicionalismos à prática de direitos dos deficientes por parte de empresas ou instituições públicas. O impedimento de fruição de bens ou serviços, a recusa ou a limitação de acesso aos cuidados de saúde e a dificuldade de acesso a escolas são os restantes motivos de protesto.
O relatório do ISCSP conclui, porém, que nos últimos cinco anos se verificou "uma maior abertura e aceitação da deficiência" na sociedade portuguesa, apesar de se situar sempre abaixo da média europeia. "Em 2019, a deficiência [58%] passou a ser o sexto motivo de discriminação em Portugal, sendo o primeiro a orientação sexual (71%), seguindo-se a origem étnica (67%), ser Roma (62%), a cor de pele (61%) e ser transgénero (59%)".
Paula Campos Pinto, coordenadora do ODDH, destaca ainda o impacto negativo da covid-19 no bem-estar psicológico das pessoas com deficiência e nos cuidadores, na sequência de um estudo realizado este ano. "Registámos níveis elevados de tristeza, depressão, ansiedade, dificuldade em dormir e preocupação com a perda de rendimentos. Tivemos gritos de exaustão dos cuidadores", revela.
Quando voltaram a repetir o inquérito, em outubro, este cenário já não era tão grave, mas continuava a ser motivo de apreensão. "As preocupações, o cansaço e a sensação de abandono são evidentes. As pessoas sentem-se esquecidas", explica Paula Campos Pinto. Os resultados foram enviados para a secretária de Estado da Inclusão das Pessoas com Deficiência, para o Instituto Nacional para a Reabilitação e para a Direção-Geral da Saúde.
"Uma das nossas missões é poder dar estes contributos. Esta informação é essencial para o desenho de políticas mais ajustadas às pessoas com deficiência", defende a coordenadora do ODDH. A este propósito, acredita que as conclusões do primeiro inquérito foram decisivos para que determinados grupos tenham deixado de ser obrigados a usar máscara.