Na última década registou-se um crescimento de 84%. Estudo do Infarmed mostra estabilização nos ansiolíticos.
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O consumo de antidepressivos quase duplicou na última década. De acordo com um estudo da Autoridade Nacional do Medicamento (Infarmed), entre 2010 e 2019 a dispensa daqueles fármacos disparou 84%. Já o consumo de ansiolíticos estabilizou. As autoras do estudo alertam, por isso, para a importância de terapêuticas não farmacológicas num país que é já o quinto da OCDE em consumo de psicofármacos.
Recorrendo aos dados de dispensa de medicamentos comparticipados pelo SNS nas farmácias, as autoras Cláudia Furtado e Elisabete Fernandes apuraram um consumo de antidepressivos de 118,66 doses definidas por 1000 habitantes/dia (DHD). Ora, em 2010 aquele valor era 1,8 vezes inferior - 64,52 DHD.
Segundo as especialistas do Infarmed, aquele acréscimo é "fruto, também, das estratégias de descontinuidade de benzodiazepinas [classe dos ansiolíticos] em situações de ansiedade generalizada".
E no que ao consumo de ansiolíticos concerne, os dados mantêm-se constantes: 84,12 DHD, em 2019; contra 83,16, em 2010. "Verifica-se uma estabilização já com uma tendência de decréscimo da utilização de ansiolíticos, hipnóticos e sedativos", lê-se no estudo.
Se, por um lado, estas estatísticas refletem a prevalência de doença mental em Portugal - as perturbações psiquiátricas afetam 22,9% dos portugueses, a segunda taxa mais alta da Europa -, por outro, alertam as autoras, sugerem uma sobre prescrição.
"Demonstram uma elevada utilização de benzodiazepinas, indiciando uma sobreprescrição e uma duração do tratamento superior ao recomendado pelas normas de orientação clínica". O que faz aumentar o risco de dependência e as síndromes de privação.
Razão pela qual defendem a importância de "reforçar as iniciativas destinadas quer aos prestadores de cuidados de saúde quer aos utentes, conducentes a uma diminuição do uso crónico das benzodiazepinas". Relativamente aos antidepressivos, parece-lhes claro que o aumento significativo do consumo reflete a "utilização preferencial do tratamento farmacológico em detrimento de terapêuticas não farmacológicas, situação que importa acompanhar".
Consumos por distrito
Numa análise distrital, Évora (163,2 DHD), Coimbra e Portalegre eram os distritos com maior consumo de antidepressivos. No outro extremo estava Faro (80,3), Bragança e Beja. No Porto o consumo era superior (126,2) ao de Lisboa (109).
Quanto aos ansiolíticos, Coimbra (110,7), Castelo Branco e Guarda estavam no topo do consumo, enquanto Faro (59,3), Lisboa e Setúbal eram os distritos com menores consumos. O Porto era o quarto distrito com consumos mais elevados.