O JN foi ao encontro de várias pessoas que, ano após ano, asseguram que nada falte na grande festa de S. João, na cidade do Porto. Por obrigação profissional ou carolice, são essenciais.
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Para que milhares de pessoas se divirtam na noite de S. João, no Porto, outras há que têm de trabalhar noite dentro. Seja para servir comida e bebida, seja para proporcionar diversão, seja para garantir a segurança numa festa que atrai gente de todas as paragens do país e cada vez mais estrangeiros. O JN foi ao encontro de vários profissionais que dão o seu melhor para que nada falte.
Música e sardinhas
Ver a alegria na cara das pessoas
Quem faz questão de passar pelo Guindalense na noite mais longa do Porto há de já ter provado as sardinhas que são assadas, "para aí há uns 20 anos", por Carlos Bastos, um dos fundadores da associação criada em 1976 nas Escadas dos Guindais, que descem da Batalha até à Ribeira, onde há 73 anos este portuense de corpo e alma veio ao Mundo. Brilham-lhe os olhos quando recorda os "patamares todos" dos Guindais repletos do povo que ali vivia. "As famílias reuniam-se e assavam-se ali as sardinhas. Era uma alegria".
Carlos tem assado ao fim de semana, mas, este ano, as sardinhas da noite de S. João não vão passar-lhe pelas mãos. "É cansativo. Vou ficar antes à porta, a controlar [as entradas], que é mais sossegado. Vamos ver se aguento até de manhã. Das três da tarde até às 8 da manhã são muitas horas", nota.
Toda a ajuda é preciosa. Como a de Miguel Alves, que vai passar a noite no bar, ou de Paulo Costa, o cantor que foi técnico de palco dos Diapasão e que desde 2013 garante a animação musical da festa. Ambos portuenses de berço, com 51 e 47 anos, respetivamente, lembram a importância de "manter a identidade" do Porto e das suas gentes, e é por carolice e amor à cidade que têm passado cada S. João a trabalhar sem parar no Guindalense. "Vale pela alegria que vejo nas pessoas", confessa Miguel, que todos os anos se encanta com "o silêncio e o olhar das pessoas para o fogo, à noite".
Rio Douro
Prontos a imergir nas águas densas
Passar a noite de S. João com o fato de mergulho vestido e de prontidão já não é novidade para Pedro Moreira, o "Chefe Tubarão" - a alcunha vem-lhe da paixão pelo meio subaquático - do Batalhão de Sapadores Bombeiros do Porto. Mergulhador na corporação há 21 anos, tem uma mão-cheia de noitadas são-joaninas vividas em serviço, pronto para imergir a qualquer minuto nas águas densas do Douro, em operações de resgate. Este ano, há de somar outro S. João a bordo do barco que fica no rio de prevenção, a postos para qualquer emergência.
Com o subchefe de 1.ª classe Pedro Moreira estarão mais dois operacionais da equipa de 70 mergulhadores dos Sapadores do Porto, desde o início da noite até às 7 horas do dia 24. "Vamos estar no rio, sempre com os telemóveis e com o rádio. E levamos um lanchezito", sorri o mergulhador nascido há 51 anos em Matosinhos, onde se apaixonou pelo mar. Seja como for, não há de escapar-lhe o fogo de artifício, que iluminará o Douro. "Nisso, acho que até somos privilegiados", atalha o "Tubarão", à espera de "um grande boom" de foliões. "Nunca sabemos quando os alarmes caem, mas estamos sempre preparados", assegura.
Fogo de artifício
Orgulho para a equipa
Há mais de 11 anos que Diogo Vasconcelos celebra a noite de S. João a trabalhar. Este ano, será um dos mais de 20 funcionários da Macedos Pirotecnia que estarão junto ao rio Douro a coordenar o espetáculo piromusical que será apresentado na noite de S. João, no Porto. "Há 11 anos que sou responsável pelo design do espetáculo piromusical", contou ao JN, explicando que o deste ano começou a ser trabalhado há cerca de um mês e vai permitir "um bailado de sincronismo entre a música e as peças pirotécnicas".
Para Diogo Vasconcelos, designer de 34 anos natural de Gatão, Amarante, trabalhar é também uma forma de celebrar. "Este é o maior palco a nível nacional. E, apesar de ser uma grande responsabilidade, sobrecarregada pelos milhares de pessoas que assistem, é muito gratificante. Quando chegamos ao final, à parte em que sentimos que correu tudo bem, que temos a multidão a gritar e a assobiar, até arrepia. É um orgulho para toda a equipa", concluiu.
Transportes
Isolado numa cabina
Ou se tem espírito são-joanino ou não se tem. David Carneiro, 40 anos, já gozou muitos S. Joões na vida e, desde que começou há seis anos a trabalhar na Metro do Porto, esta é a segunda vez que lhe calha conduzir o metro na noite de festa. É graças a esse seu espírito que hoje não sente nervoso miudinho antes de começar o turno da noite.
"É muito agitado com tanta animação, além de ser um desafio, já que a noite de S. João é a mais movimentada do ano", refere o motorista do metro que, no turno do dia da festa, começa a trabalhar às 19.30 horas e termina por volta das 4 horas na Linha A, até Matosinhos. "Nem a noite da Queima das Fitas é tão agitada", prossegue David Carneiro.
Para lidar com um turno com milhares de utentes, conta o motorista, além do número de carruagens - que vão ser mais a circular -, há preparação para o que é necessário "defrontar noite adentro". Em caso de emergência, acrescenta: "Em primeiro lugar fica a segurança dos utentes e a minha". O que mais acontece são "alguns excessos" e vómitos.
"Em primeiro lugar, temos a benesse de estarmos isolados na cabina. Mas, mesmo assim, qualquer alarme que tenhamos contactamos o posto de comando e, se for preciso alguma intervenção, temos equipas de limpeza a postos e os vigilantes nas estações", relata David Carneiro, de Ermesinde. Mas, por outro lado, o S. João apela à ternura e à alegria e já lhe aconteceu ver "pessoas muito simpáticas que sorriem e batem com o martelo na cabina".