Criar legislação que garante condições de trabalho adaptadas às limitações das doentes de cancro da mama é uma das sugestões apontadas por uma investigação do Instituto de Ciências da Saúde da Católica. O estudo revela que 56% das doentes inquiridas sentem-se limitadas no seu emprego. Em Portugal não existe legislação específica que as proteja durante o período laboral.
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O Instituto de Ciências da Saúde da Católica realizou um estudo com o objetivo de perceber como vivem e quais as necessidades das doentes de cancro da mama e uma das conclusões está relacionada com o emprego: 56% das doentes sentem limitações no trabalho. Nesse sentido, os investigadores sugerem a revisão da legislação em vigor relativa ao doente crónico, para que seja adaptada ao doente oncológico, e ainda criar mecanismos legais para melhorar a capacidade de adaptação ao local de trabalho e à empregabilidade.
Em Portugal são diagnosticados cerca de 6 mil novos casos de cancro da mama por ano e morrem aproximadamente 1500 mulheres durante a luta contra a doença. Uma das barreiras identificadas pelo estudo foi a inexistência de legislação específica que proteja as mulheres com diagnóstico de cancro da mama durante o período de trabalho, especialmente na possibilidade de flexibilização dos horários ou na adequação do tipo de funções laborais às limitações destas doentes.
Em matéria de emprego, o estudo propõe que a declaração médica entregue à entidade empregadora tenha a definição das restrições que as doentes têm para determinadas atividades e ponderar incentivos fiscais ou apoios financeiros à entidade empregadora.
Insuficiências de recursos preocupam
O estudo também recolheu a opinião dos profissionais de saúde. Questionados sobre os cuidados prestados às doentes de cancro da mama, os profissionais manifestaram preocupações acerca da insuficiência de recursos, apontaram os tempos de espera prolongados, tanto no diagnóstico como na realização de tratamentos, e a dificuldade existente no SNS de acesso a terapêuticas inovadoras, bem como do elevado número de consultas que resultam do medo do reaparecimento de sintomas, por parte das doentes.
Doentes admitem problemas financeiros devido à doença
Para além de medidas relativas à melhoria do apoio à doente oncológica e à sua integração na sociedade, os investigadores reconhecem que é preciso soluções para educar a população em geral, e a própria doente, através de campanhas de sensibilização e ações de formação para o rastreio do cancro da mama.
Cerca de 34% das doentes reporta que o seu estado físico ou o tratamento causaram problemas financeiros e 40% admite recorrer a apoios informais (familiares e/ou amigos) ou a apoios formais contratados pela própria. Menos de 20% tem apoio da Segurança Social.
O estudo, que será apresentado esta manhã na Universidade Católica, em Lisboa, sugere respostas para melhorar o acesso aos cuidados de saúde, como por exemplo: melhorar o acesso ao rastreio, nomeadamente nas doentes que não têm médico de Medicina Geral e Familiar, consultas à distância sempre que adequado à situação clínica e promover a possibilidade de hospitalização domiciliária a doentes em cuidados paliativos.
Há ainda propostas para melhorar as equipas multidisciplinares, a integração entre cuidados de saúde primários e hospitalares e para a promoção da investigação.
O estudo ouviu doentes e profissionais do Instituto Português de Oncologia do Porto, do Instituto Português de Oncologia de Coimbra, Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Norte, Centro Hospitalar Trás-os-Montes e Alto Douro - Unidade de Vila Real, Hospital do Espírito Santo em Évora, Centro Hospitalar Universitário do Algarve em Faro e Hospital da Luz em Lisboa. As doentes foram inquiridas através de questionário através de associações de doentes representativas.