Inácio Belga tem 77 anos e há meio século que se fixou em Lisboa. Sobre a capital deixa uma visão saudosista, dos tempos da Baixa "vibrante" das grandes lojas e restaurantes. Nascida já neste século, Ana Viegas elege os jardins da Gulbenkian como o seu lugar preferido da cidade e só lamenta que haja demasiado lixo nas ruas e atrasos nas carreiras de autocarro.
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Inácio Belga, 77 anos, nasceu em Beja, mas já vive em Lisboa há 50. É apaixonado pela cidade, admite, mas "a do antigamente". "A Baixa de Lisboa era uma categoria, era tudo melhor, os restaurantes, as lojas... Uma pessoa precisava de comprar uma gravata ou uma camisa tinha de ir à Baixa porque havia lá tudo e com qualidade", recorda, saudosista.
No plano opsoto, quiçá pelos 60 anos que a separam de Inácio, Ana Viegas elogia o ar cosmopolita, que se respira precisamente na Baixa. A jovem nasceu em Lisboa, mas só começou a explorar mais a cidade após a pandemia covid-19. "Comecei a sair mais de casa e a ir mais para a Baixa , onde não ia tanto. Gosto do espírito e da "vibe" da zona, com pessoas a falarem várias línguas, é harmónico", partilha.
Inácio Belga porém não esconde a saudade da Lisboa de outros tempos. Nos últimos anos, com o encerramento de vários estabelecimentos, "tudo piorou". "Fecham as lojas e o que abre não tem qualidade", lamenta.
Agora anda lá tudo, trotinetas e essas porcarias. A gente quer passar e não consegue
O septuagenário, que trabalhou numa ourivesaria vários anos na Baixa de Lisboa, tem dificuldade em olhar com otimismo para as transformações que se produziram na capital.
"Há mais jardins, mas também não têm condições, porque não limpam as sarjetas. Há uns anos era melhor", diz.
Para o morador dos Olivais, a requalificação do espaço público, como o aumento dos passeios, também não trouxe melhorias. "Agora anda lá tudo, trotinetas e essas porcarias. A gente quer passar e não consegue. Tenho saudades do antigamente", desabafa.
Já para Ana Viegas, o sítio preferido da cidade é o jardim da Fundação Gulbenkian. "Costumava acampar em criança e gosto de aves e na Gulbenkian há patos, o que não é muito comum numa cidade".
Às vezes os autocarros atrasam e depois só partem no horário seguinte e chegamos atrasados. Apesar de tudo, melhorou de há uns anos para cá
Não deixa porém de concordar com Inácio belga quando o tema é limpeza urbana. A falta de civismo é o principal problema da capital para a estudante do 12º ano. "Há muito lixo nas ruas. Há caixotes por vários sítios e depois há lixo no chão, mesmo ao pé dos caixotes, quando estes não estão cheios. As pessoas também não apanham o cocó dos cães", critica.
A moradora na zona da Estrela lamenta ainda o trânsito nas horas de ponta quando vai para a escola e os atrasos dos autocarros. "Quando estamos com pressa é pior. Às vezes os autocarros atrasam e depois só partem no horário seguinte e chegamos atrasados. Apesar de tudo, melhorou de há uns anos para cá", reconhece.