Fernando Pereira, das discotecas Jamaica e Tokio, teme que subida das taxas de crédito afaste clientes
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Depois de dois anos e meio fechadas, as discotecas Jamaica e Tokyo, em Lisboa, reabriram no final do mês passado. Sem atividade durante 30 meses, "os prejuízos ascenderam aos 300 mil euros e o total de faturação que não se fez aos três milhões", mas o pior ainda poderá estar para vir. "Agora, as taxas (dos créditos) vão começar a disparar e dependemos do público que, se o dinheiro não chegar, gasta menos ou não vem", receia Fernando Pereira, dono das duas discotecas, que também sente que "ainda há gente com medo de estar em grandes aglomerados".
Quando os espaços noturnos começaram a fechar, por causa da pandemia, Fernando Pereira já estava preparado para o encerramento temporário dos estabelecimentos que gere. O edifício onde funcionaram durante mais de meio século, na conhecida por "rua cor de rosa", no Cais do Sodré, foi vendido a uma cadeia de hostels espanhola, obrigando à saída das discotecas para o Cais do Gás. As obras prolongaram-se por mais um ano do que o previsto e a pandemia não ajudou.
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Mudança de instalações
"A mudança de instalações veio acrescer mais prejuízos aos decorrentes da pandemia porque o investimento foi enorme, de um milhão e 200 mil euros e ainda há contas por fechar", diz o empresário, acrescentando que a empreitada encareceu. A Câmara de Lisboa cedeu um armazém para os dois espaços continuarem a funcionar, mas não havia condições. "Era velho e abandonado, estava tudo partido. Tivemos de deitar tudo abaixo e fazer tudo de novo", conta. Agora, além de pagar uma renda "dez vezes mais cara" que a anterior, teme que a nova morada prejudique o negócio. "Na rua rosa passavam milhares de pessoas e acabavam por entrar. Aqui não, vão ter de procurar-nos".
O sócio das duas casas que teve de recorrer a empréstimos acredita que demorará "oito anos a recuperar", mas mantém o otimismo. "As discotecas que tinham de fechar já fecharam. Durante seis anos, não distribuímos lucros pelos sócios porque sabíamos que íamos ter um investimento para fazer, isso ajudou a que não fosse necessário recorrer à banca para a maior parte desse valor", explica. Os apoios do Estado e da Câmara de Lisboa às discotecas, adianta ainda, permitiram "aguentar a estrutura e não despedir ninguém".