Os donos de bares e discotecas estão a atravessar "tempos muito complicados" com o início do pagamento das moratórias relativas às rendas e dos financiamentos das linhas covid, depois de terminado o período de carência. O cenário é "asfixiante" de norte a sul do país e nem o retomar do turismo - com números superiores aos de 2019 - tem animado os negócios, perante a nuvem negra da subida dos preços. O setor apela à ajuda do Estado e alerta que, se isso não acontecer, haverá muitos espaços que vão fechar.
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Ricardo Tavares, da Associação Portuguesa de Bares, Discotecas e Animadores (APBDA), confirma que o início de pagamento das moratórias veio "agudizar" a asfixia do negócio, contando que a maior parte dos empresários tem agora para pagar uma despesa mensal que "é quase o dobro da que tinham".
"Atravessamos tempos muito complicados, porque o negócio da noite desacelerou por conta da pandemia e nem o turismo tem ajudado", referiu o presidente da APBDA, dando como exemplo, em Lisboa, "o presente envenenado que tem sido a Web Summit". "É um evento que recebe milhões de euros de incentivos e depois acabam por vender a noite, com vários eventos próprios que organizam, esvaziando os espaços noturnos", assinalou.
"Na linha vermelha"
Ricardo Tavares assume que o cenário é de tal forma dramático que há muitos empresários já "na linha vermelha", não conseguindo "suportar mais nada". "Se o Governo não tomar medidas para o setor, vai ser muito complicado", salientou.
Também Liberto Mealha, presidente da Associação de Discotecas do Sul e Algarve, descreve "um panorama que não é muito bom": "Por causa da guerra, os custos de tudo agravaram-se e só em termos de energia há contas que triplicaram". "O Estado devia alargar os prazos de pagamento das moratórias e tomar uma atitude como o Governo espanhol, que colocou o IVA a 6%", argumentou.
Ainda que o verão no Algarve tenha corrido "muito bem", Liberto Mealha lembrou que esta é uma região com procura "sazonal", dando conta que "a maior parte das casas já fecharam porque não tem clientes".
Já António Fonseca, presidente da Associação de Bares da Zona Histórica do Porto, recordou que este foi "o setor mais afetado pela pandemia", salientando que "agora que o Orçamento de Estado vai para discussão devia contemplar um apoio a fundo perdido relativamente às despesas permanentes como água, luz, rendas, impostos e salários".
Outra das sugestões, seria "prorrogar o prazo das moratórias", uma vez que da forma como os negócios estão "não há garantia de sobrevivência dos empresários". "Uns já venderam as cotas ou passaram o negócio e mesmo aqueles que têm uma gestão financeira de rigor acabaram por esvaziar os cofres para aguentarem a pandemia", contou. Também Miguel Camões, presidente da Associação de Bares e Discotecas da Movida do Porto, sublinhou que os custos dos empresários, em muitos casos, "quase triplicaram"
Carlos Machado, proprietário do bar Romanoff e da discoteca Griffon"s, no Porto, retrata que "as casas ainda não estão com muita força" e que "as pessoas estão a consumir menos". "Se antes bebiam dois copos, agora só bebem um". O pagamento das moratórias "tem deixado os empresários com a corda na garganta". "Ou o Governo dilata os prazos das moratórias ou de outra forma será muito difícil suportar os negócios", concluiu.
Problemas do setor abordados em reunião com secretária de Estado
A 27 de abril foi apresentada na Assembleia da República a petição (com 6605 assinaturas) lançada pela Associação de Bares da Zona Histórica do Porto, alertando o Governo para a necessidade de criar um apoio financeiro para "salvar postos de trabalho e compensar e salvar todas as empresas e empresários de bares e estabelecimentos de bebidas". Na altura, António Fonseca congratulou-se com o facto de "toda a oposição ter concordado que devia haver um apoio à tesouraria". Anteontem, após uma reunião, a secretária de Estado do Turismo, Rita Marques prometeu "inteirar-se" sobre o documento, disse Fonseca. Também foi abordada a "falta de recursos humanos no setor".