Mário Carvalho é o dono do Café Lusitano e assume que "o cerco apertou" com tantas despesas para pagar.
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"O cerco apertou". O desabafo é de Mário Carvalho, proprietário do Café Lusitano, bar, discoteca e restaurante, na Rua José Falcão, que em fevereiro atinge a maior idade. O empresário, com experiência na noite do Porto há 34 anos, não tem dúvidas que esta está a ser "a fase mais complicada" de ultrapassar desde que, em 1988, passou a dedicar-se a este ramo. E aponta o dedo à pandemia, para a qual "ninguém estava preparado", e que obrigou os empresários da noite a estarem com os estabelecimentos fechados durante 20 meses e os levou a recorrem a todo o tipo de apoios financeiros, que agora têm de começar a pagar.
O dono do Lusitano conta que este mês as contas avolumam-se com "o início dos pagamentos dos empréstimos referentes às linhas de financiamento covid, e dos apoios de tesouraria do Turismo de Portugal, para quem assegurasse os postos de trabalho". A isto somam-se as moratórias relativas às rendas dos espaços, que começaram a ser pagas no início de janeiro.
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Acordo com o senhorio
"No meu caso, cheguei a acordo com o senhorio e tive de pagar tudo antecipadamente, no início de 2021, com financiamento do banco. Paguei as rendas de 2020 que tinha em atraso e todo o ano de 2021. Acabei por ter um desconto de um terço do valor, mas não foi por ter um senhorio benemérito. O pensamento deve ter sido: "Ele vai falir e ao menos recebo tudo já"", explicou.
Todavia, nem por isso as contas de Mário são mais fáceis. "Comecei agora em setembro a pagar a primeira prestação do financiamento da linha covid, que de tão alta é quase uma renda: 3600 euros; depois, para a renda são quase cinco mil euros; mais o apoio do Turismo que se vai começar a pagar agora, que são mais 1125 euros. Quando isto acumular tudo, será muito dinheiro", referiu Mário. "A noite já deu muito dinheiro, mas foi nos anos 90, há 30 anos. O que se ganhou foi sendo diluído", acrescentou.
E não é tudo: "A energia vai subir e não sabemos para quanto", referiu o empresário, dando conta que "a última conta da eletricidade quase duplicou", tendo pago 1400 euros.
Perante o cenário, Mário antevê que muitos estabelecimentos possam fechar. "Se as pessoas não tiverem fundos próprios, um mealheiro, vão ficar asfixiadas, porque vão ter encargos muito grandes".