"Dor que fica para toda a vida". Padre condenado por abusos sexuais mantém-se no ativo
O padre António Júlio Santos, condenado em 2015 por dois crimes de abusos sexuais de menores quando exercia funções na Golegã, disse arrepender-se todos os dias pelo que fez e que a dor fica para toda a vida. O sacerdote mantém-se no ativo na paróquia do Vale de Santarém.
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Em declarações à SIC, António Júlio Santos admitiu que não se orgulha do que fez, garantindo que acredita que hoje é "um homem novo". "Esta é uma tristeza que fica para toda a vida. É uma dor que fica para toda a vida. Não pense que do outro lado também não há dor. Há muita dor, acredite. Há muita tristeza da minha parte", afirmou numa reportagem emitida na quarta-feira.
Recuando a 2015, António Júlio Santos foi detido pela PJ por suspeita de dois crimes de abusos sexuais de duas menores de 11 e 12 anos. O primeiro abuso aconteceu durante um acampamento de escuteiros e, uma semana depois, numa visita com um grupo de jovens à Feira da Golegã, recordou a SIC.
Na altura, o Tribunal de Santarém condenou o padre a um ano e dois meses de prisão, com pena suspensa, sem nenhuma medida de restrição. No entanto, segundo a SIC, o nome do padre faz parte da lista de mais de seis mil pedófilos condenados no país. "Assim que as coisas se tornaram públicas, fui eu o primeiro que pedi a minha suspensão", disse.
Mudou de paróquia um ano depois
Um ano depois da condenação o padre foi novamente nomeado vigário paroquial de Vila de Chã de Ourique e promovido, em 2021, a administrador paroquial de Nossa Senhora da Conceição de Póvoa da Isenta e Santa Maria de Almoster. "Se eu acho que há possibilidade de recomeçar? Acho", disse. garantindo sentir-se em condições para representar a Igreja.
Após a condenação, António Júlio Santos revelou que foi acompanhado por psicólogos e pelo Ministério Público, que por sua vez avaliou a sua possível reintegração. O padre partilhou também que nunca está sozinho numa sacristia porque quer "sempre lá alguém", estando ou não menores presentes, nem dá catequese. Garantiu ainda que a comunidade conhece a situação e que nunca houve problemas.
Questionada pela SIC, a diocese de Santarém recordou que os juízes não determinaram o afastamento nem aplicaram qualquer medida de restrição ao padre, garantindo que foi bem recebido pela comunidade. Em relação ao perigo de este manter contacto com menores, a mesma fonte disse esperar bom senso.
Em reação ao relatório da comissão independente para o Estudo dos Abusos Sexuais contra as Crianças na Igreja Católica Portuguesa, o sacerdote defendeu que os casos relatados devem ser investigados. "Ninguém fica feliz de uma situação destas. Nós sentimo-nos envergonhados. Efetivamente, se a situação é esta, a crer naquilo que foi publicado pela comissão, claro que se tem de tomar medidas".
Recorde-se que esta quarta-feira, por decisão dos bispos, foram afastados provisoriamente três sacerdotes que fazem parte da lista da comissão independente - um da arquidiocese de Évora e dois da Angra, nos Açores.