Numa liderança em crescendo, o advogado que se mostrou confiante desde o início na reeleição como primeiro-ministro saiu reforçado, mesmo após a polémica com a Spinumviva.
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Mais de duas décadas após ter entrado na Assembleia da República pela primeira vez, com 29 anos, o antigo líder parlamentar do PSD chegou à “cadeira de sonho” e assumiu o comando do país durante 11 meses, até à queda do Governo, provocada por aquela que se tornou na empresa mais conhecida dos portugueses: a Spinumviva. Cercado por dúvidas acerca da sua idoneidade, Luís Montenegro refutou as críticas que o acusaram de confundir a vida familiar e profissional, insistiu que esclareceu tudo o que havia para esclarecer e até arriscou atitudes de alguma altivez ao desvalorizar a necessidade de dar mais explicações. “Às vezes, tenho mais que fazer do que estar a responder-vos diariamente”, atirou no Parlamento, na segunda das duas moções de censura que enfrentou.
Líder em crescendo, afirmou-se e fez renascer a família social-democrata - entorpecida após oito anos de governação socialista - e foi enchendo o balão da confiança. “Fizemos mais em 11 meses do que aqueles que nos antecederam fizeram em oito anos”, declarou o presidente do PSD, que assumiu a liderança do partido em 2022, no congresso do Porto, depois de Rui Rio ter perdido as legislativas. E se na primeira campanha eleitoral fez questão de recordar que visitou os 308 concelhos do país para se “preparar” para primeiro-ministro, desta vez pediu apenas que deixassem “o Luís trabalhar”. Mostrou-se seguro na reeleição, suscitando em muitos a ideia de que intimidou o país a ir a eleições só para sair reforçado. O que aconteceu.
Protegeu o Governo e uniu o partido
Como chefe de Governo, o advogado que iniciou a vida política na Juventude Social Democrata, quis sempre liderar os grandes dossiês, atribuindo a si ou ao seu núcleo duro - composto por Hugo Soares ou António Leitão Amaro - os processos de negociação importantes e a tomada de decisões cruciais. Provou ser o homem que “dá o corpo às balas” pela equipa que escolhe, protegendo continuamente figuras como a ministra da Saúde ou da Administração Interna, criticadas pela crise no INEM e pela gestão dos incêndios de setembro, respetivamente.
A postura mostrada no último ano espelhou-se na família laranja. Afastou a oposição interna, foi responsável pela afirmação de um partido unido e coeso e conseguiu algo inédito: juntar à volta da mesa, no último aniversário do PSD, que coincidiu com o período da campanha eleitoral, os antigos presidentes sociais-democratas, pondo Pedro Passos Coelho ao lado de Rui Rio. Todos apelaram à estabilidade.
Nascido um ano antes da Revolução dos Cravos, que este ano escolheu celebrar no 1 de Maio num dueto com Tony Carreira, em que cantou “Sonhos de Menino”, Luís Montenegro tem 52 anos e é um assumido amante de desporto. Os amigos dão-lhe nota máxima nos cozinhados, sobretudo na sopa de peixe e no arroz de cabidela. Graças à empresa familiar, cujo nome é inspirado no pregão das vareiras de Espinho, cidade piscatória onde sempre viveu, o país acabou por conhecer melhor a família do primeiro-ministro. É casado com Carla Montenegro, que o acompanha para todo o lado, e tem dois filhos, a quem passou a Spinumviva, já a polémica estava instalada.
Aliás, na última semana, o primogénito, Hugo Montenegro - que se tornou numa estrela no TikTok - surgiu em plena campanha e garantiu que, caso fosse necessário, ia dar explicações à Assembleia da República sobre a “sombra” que irá perseguir para sempre o pai.