Aveirense morreu, aos 31 anos, com leucemia, depois de ter tido esperança de sobreviver. Há outros casos semelhantes.
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Fábio Rocha, de 31 anos, descobriu que tinha leucemia em dezembro de 2017. Na semana passada, a 26 de fevereiro, faleceu na sequência da doença. Meses antes, dois dadores de medula óssea, que eram compatíveis consigo, tinham recusado a doação. A família não sabe se o desfecho de Fábio - "um grande lutador, cheio de alegria e de paz", recorda a namorada, Sofia Silva - teria sido outro, caso os dadores tivessem aceitado continuar com o processo. Mas alerta para a necessidade de "consciencialização" de quem se inscreve como dador de medula óssea, para que as expectativas do doente não sejam defraudadas.
Fábio era "filho" do bairro da Beira-Mar e proprietário de um bar ("Alavarium"). A sua morte chocou a comunidade.
Amigos revoltados
Primeiro, devido à partida precoce de quem ainda tem a vida pela frente. Depois, porque um amigo, num sentido texto de despedida que colocou no Facebook, divulgou que Fábio havia tido dadores compatíveis, que recusaram a dádiva. Também jovem e a lutar contra a leucemia, Sandro Ferreira dizia-se revoltado com a recusa. E a história acabou partilhada por mais de 8500 pessoas.
Ainda magoa muito a Sofia falar dos últimos 13 meses. Até porque Fábio "era muito discreto". Mas aceita contar parte da história do namorado, porque acredita que é necessário sublinhar que "as pessoas têm de ser muito responsáveis, quando se inscrevem como dadores de medula óssea". "Também promovi uma recolha, quando estávamos à procura de um dador, e fiz sempre questão de dizer às pessoas que a inscrição ficava válida tanto para doar ao Fábio, como a qualquer outra pessoa. Temos de nos pôr no lugar do doente", realça Sofia.
Encontraram-se três pessoas compatíveis e Fábio foi informado. Mas uma, do banco nacional, encontrava-se "indisponível", à época, por estar grávida. Outras duas, do banco internacional, alegadamente de nacionalidade alemã, recusaram, sem se saber o porquê. "Foi um balde de água fria, mas disseram-nos que acontece muitas vezes. Sempre pedimos aos médicos para nos contarem o que se estava a passar. Foi uma opção nossa. Há quem prefira não saber", recorda a jovem.
Muitos desistem
Os médicos não mentiram. Há mais gente a quem recusaram doações. E não é de agora. Em 2014, por exemplo, só entre janeiro e novembro, 101 dadores inscritos no Registo Português de Dadores de Medula Óssea desistiram do processo, depois de serem chamados a salvar uma vida.
Apesar de tudo, Sofia não culpa os dadores: "Não posso dizer que o Fábio morreu por terem recusado doar-lhe a medula. Seria injusto, até porque nunca nenhum médico nos deu a garantia de que o transplante o iria salvar".
Perguntas e respostas
Com que idade se pode ser dador?
Segundo o Registo Português de Dadores de Medula Óssea (CEDACE), quem quiser doar células de medula óssea, a doentes que podem ser tratados pela transplantação dessas células, tem de ter entre 18 e 45 anos.
Como se desenrola o processo?
A inscrição só se faz uma vez na vida e é válida até aos 55 anos, idade a partir da qual os dadores são retirados das bases de dados. São feitas análises ao dador, para determinar as características tecidulares dos seus leucócitos. No caso de aparecer um doente com o qual tenha compatibilidade, é feita mais uma pequena colheita de sangue e testes mais precisos.
Se for compatível, o que acontece?
A recolha de medula pode ser feita de duas formas: colher as células a partir de veias periféricas no braço, num processo rápido e simples. Ou no bloco operatório, sob anestesia, por punção dos ossos da bacia. Requer internamento de cerca de 24 horas.