Das 1783 ativações feitas em Portugal, 610 não prosseguiram, mais de metade por doença. Impossibilidade de contactar 113 dadores também travou dádivas.
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Nem todos os inscritos nas bases de dados, nacionais e internacionais, de dadores de medula óssea aceitam avançar com a dádiva, quando sabem da possibilidade de ter um doente compatível. Em 2017, o Centro Nacional de Dadores de Células de Medula Óssea (CEDACE) foi ativado 1783 vezes para doações. Mas em 110 casos (6%) os dadores desistiram e não quiseram continuar com o processo. Em 2013 tinham sido 81 recusas (3%). Ainda não há dados de 2018.
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Alguém que esteja inscrito como dador de medula fica registado nas bases de dados - de onde constam as características tecidulares dos seus leucócitos - e pode demorar anos a ser chamado ou nunca o ser. Mas quando o CEDACE sabe que há possibilidade de haver um doente compatível, o dador é ativado. "Dizemos possibilidade, porque é necessário confirmar a tipagem HLA [características tecidulares dos leucócitos] em alta resolução. E averiguar se, durante o tempo em que esteve inscrito, o dador não teve nenhuma doença que impeça a dádiva", explica, ao JN, fonte oficial do Instituto Português do Sangue e da Transplantação (IPST).
Impedidos por doença
Em 2017, o CEDACE (com mais de 350 mil potenciais dadores) teve 1783 ativações. Excluindo os casos em que o doente acabou por não ter condições para o transplante e aquelas em que se confirmou, nas análises mais exatas, que a compatibilidade não era total, 610 ativações não prosseguiram. Esses dadores foram retirados do registo.
"Das 610 que não prosseguiram, houve 110 que desistiram. Para além desses, 310 foram retirados por se ter verificado terem doenças desconhecidas na altura da inscrição, com 113 não foi possível ter contacto, 49 emigraram e 28 estão inscritos noutros registos internacionais", diz o IPST.
Os casos de recusa, quando são do conhecimento dos doentes, podem defraudar as suas expectativas. Foi o caso de Fábio Rocha, de Aveiro, que morreu na semana passada, aos 31 anos, vítima de leucemia, como noticiou ontem o JN. Meses antes, segundo a família, dois dadores compatíveis tinham recusado a dádiva. A namorada, Sofia Silva, diz que "não se sabe se o desfecho teria sido diferente, caso os dadores tivessem aceitado" e que, por isso, não culpa ninguém. Recorda, no entanto, que quando souberam da recusa "foi um balde de água fria".
Médicos informam
Questionado sobre em que fase do processo é que o doente é informado da existência de um dador compatível, o IPST esclarece que "só os médicos dos doentes podem dar informações", uma vez que são os responsáveis pelos pedidos de ativação. É no final de um conjunto de exames, para confirmar a condição de saúde do dador e a compatibilidade que "o médico do doente informa o CEDACE se o dador passa à fase seguinte". "O CEDACE só faz o que é pedido pelo médico da unidade de transplantação".
Perguntas e respostas
Depois da ativação de um dador, o que acontece?
É necessário confirmar a tipagem HLA em alta resolução e se, durante o tempo em que esteve inscrito, o dador não teve nenhuma doença que impeça a dádiva. Nesta fase, o dador é novamente informado de todo o processo e, se concordar continuar, tem que fazer análises para averiguar a compatibilidade.
Se as análises confirmarem a compatibilidade, qual é a fase seguinte?
Chama-se "work-up". Resumidamente, é um estudo completo do dador do ponto de vista clínico, analítico e imagiológico. Nesta fase, ainda se podem descobrir doenças, o que, diz o CEDACE, "é raro acontecer". Feito esse estudo, a pedido do médico é marcada a data da doação.
Todos os doentes podem ser transplantados?
Não. Muitas dádivas, apesar de haver compatibilidade com o dador, acabam por não avançar, por a evolução rápida da doença não permitir uma janela de oportunidade que possibilite o transplante. Nem todos os doentes têm condições para transplante.