Vários estudantes contam que viveram uma espécie de inferno no hotel que os acusa de terem causado estragos de milhares de euros.
Corpo do artigo
5782754
As versões sobre o que aconteceu com os finalistas portugueses na última semana no Hotel Pueblo Camino Real, em Torremolinos, Málaga, multiplicam-se. O dono da unidade hoteleira onde os cerca de mil jovens estiveram alojados queixa-se de um rasto de destruição - paredes partidas, uma televisão na banheira e colchões atirados para a piscina. Fontes da Policia Nacional disseram à imprensa espanhola que os prejuízos causados pelos alunos estão estimados em "milhares de euros". Em Portugal, a PSP confirma que houve "desacatos" causados pelo excesso de álcool e a empresa que organizou as excursões desmente que tenha havido problemas de maior.
Mas os estudantes com quem o JN conversou este domingo têm uma versão diferente dos acontecimentos. Contam que o hotel não cumpriu o que estava acordado, que estiveram sem água quente, que houve cortes de energia, que foram proibidos de beber álcool e sujeitos à vigilância cerrada de dezenas de seguranças, além de terem sido insultados pelo dono do hotel, Enrique Pascual, o que os levou a chamar a polícia.
5784474
A estadia no Pueblo Camino Real, mesmo em frente à praia, custou cerca de 600 euros e os estudantes foram divididos pelos vários edifícios que compõem a unidade hoteleira. O acordo celebrado com a empresa organizadora, a "Slide in Travel", previa que os jovens tivessem direito a pequeno-almoço, almoço, jantar, vários "snacks" durante o dia, bar aberto e animação durante a tarde e a noite com "sets" de DJS.
Problemas começaram logo no primeiro dia
Porém, e segundo recorda ao JN um estudante de Matosinhos, os problemas começaram logo no primeiro dia. "As refeições eram pobres, serviram-nos ao jantar o mesmo que ao almoço e os snacks praticamente não existiam", descreve Eduardo.
Ao segundo dia, o serviço degradou-se ainda mais. "Quando deixámos as toalhas no chão na esperança de que fossem trocadas por umas limpas, o que aconteceu foi que o staff as voltou a dobrar para serem reutilizadas", garante Miguel, finalista de Braga. Quanto aos lençóis, não foram trocados durante toda a semana. "Tive o azar de sujar o lençol na noite de segunda-feira e assim ficou até sábado", diz Mariana, estudante de um colégio de Lisboa, que se queixa de ter tomado banho "de água fria".
Enquanto isso, muitos estudantes terão optado por começar a fazer as refeições fora da unidade hoteleira. "Tínhamos pensão completa, mas comíamos massa com molhos todos os dias e rissóis e croquetes. Passámos a ir ao McDonald's porque já não conseguíamos comer mais bolonhesa", acrescenta. Vários estudantes garantem que, devido à comida, chegou a haver indisposições. "Muitos dos meus amigos sofreram uma intoxicação alimentar e ainda estão doentes, alguns até ainda estão em Espanha por causa disso", revela Daniel, do Externato de Vila Meã, Amarante.
Fomos revistados à porta do hotel como se fossemos presidiários
A tensão foi aumentando ao longo dos dias. E, ao terceiro, chegaram ao hotel vários seguranças com ar pouco amigável. Ao mesmo tempo, foram colados avisos nas paredes a dar conta de que, a partir de então, não seriam servidas quaisquer bebidas alcoólicas. "Havia um segurança por complexo e vários cá fora, incluindo durante a noite", conta Eduardo. "Começámos a ser revistados à porta do hotel como se fossemos presidiários. Remexiam as nossas malas e sacos à procura de álcool", acrescenta Mariana. No mesmo dia, recorda Eduardo, as atuações dos DJs foram canceladas e o hotel decidiu cortar a energia para que não pudessem atuar.
Terá sido também ao terceiro de dia que alguns estudantes decidiram pedir o livro de reclamações. Foi o caso de Mariana e de Daniel. Mas o diretor do hotel não o quis dar. "Chamámos a polícia várias vezes devido à recusa em escrevermos no livro", diz a estudante de Lisboa. E quando alguns finalistas conseguiram finalmente pôr as reclamações por escrito, o gerente "rasgou-as".
5784208
Ao quarto dia, Eduardo revela que o responsável pela unidade hoteleira envolveu-se num confronto verbal aceso com uma funcionária da empresa "Slide in Travel". "Tinha acabado de entrar no hotel. Vi um grupo grande pessoas juntas e ouvi gritos masculinos. Era ele, completamente descontrolado. Quase chegou à agressão física e à frente de toda a gente", garante.
Pelo meio, e segundo os relatos de vários alunos, o diretor - que prometeu uma conferência de imprensa para amanhã [segunda-feira] e se tem recusado falar com jornalistas - terá chamado os finalistas de vários nomes, desde "filhos da p..." a "animais".
"Disse-nos que tinha sido enganado porque a 'Slide In' lhe teria dito que éramos um grupo de peregrinos e que só por isso é que tinha aceite as reservas", diz Mariana. Eduardo, de Matosinhos, confirma esta versão. "Mas isto é disparatado. O nosso pacote incluía bar aberto e sets de DJs. Que tipo de peregrinos quereriam passar uma semana assim?", questiona.
Todos os estudantes contactados pelo JN negam ter visto colchões a voar ou rastos de destruição. "Houve amolgadelas nas paredes e cadeiras partidas e sei que quem o fez foi imediatamente identificado. As notícias que têm saído são mesmo muito exageradas", garante Miguel, de Braga.