Procedimento tem sido utilizado pontualmente no tratamento de uma infeção frequentemente contraída em contexto hospitalar. Mas há estudos a mostrar que pode vir a ser decisivo na luta contra várias patologias. Cancro incluído.
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Em 2005, um “paper” relacionado com um estudo feito em ratinhos geneticamente obesos veio revolucionar a forma como olhamos para o “conteúdo” do nosso intestino. A conclusão, parecendo simples, foi disruptiva: estes tinham, em relação a outros sem predisposição para a obesidade, uma “ecologia” distinta - que é como quem diz, as fezes tinham uma composição diferenciada. No ano seguinte, avançou-se para o primeiro estudo em humanos. E as conclusões foram no mesmo sentido: ou seja, os indivíduos que sofriam de obesidade tinham uma microbiota (lá iremos, ao significado mais detalhado deste termo) diferente. Mais: os participantes no estudo foram sujeitos a uma dieta de 52 semanas, com restrição de gordura e aumento de fibra, e registam não só perda de peso, mas também recuperação da diversidade da microbiota. “Isto mostrou que esta é diferente nos indivíduos com obesidade e que pode ser reversível, mediante uma alteração no regime alimentar”, sublinha Conceição Calhau, professora catedrática da Nova Medical School e coordenadora de um grupo de docentes e investigadores da instituição que tem trabalhado o tema.
Assim se abriu caminho a uma nova fase da investigação médica. “No século passado, preocupámo-nos sobretudo com as doenças infecciosas, em arranjar formas de contrariar os bichinhos. De há uns anos para cá passámos a ter a noção de que existem microrganismos que são bons para nós.” João Pereira da Silva, gastrenterologista do Hospital Lusíadas Lisboa, também dá conta desta mudança de paradigma. “Tem havido uma mudança do pensamento científico em relação à existência das bactérias e do microbioma. Se durante muito tempo era visto como algo secundário no nosso sistema digestivo, hoje sabemos que todo o microbioma tem uma enorme importância.” Não só na maturação de um sistema imunitário robusto como, no limite, na maior ou menor propensão para o surgimento de patologias diversas.